terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher

Fui essa que nas ruas esmolou
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mãos pálidas poisou...

Tanto poeta em versos me cantou!
Fiei o linho à porta dos casais...
Fui descobrir a Índia e nunca mais
Voltei! Fui essa nau que não voltou...

Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor do verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes...

Tudo em cinzentas brumas se dilui...
Ah, quem me dera ser Essas que eu fui,
As que me lembro de ter sido... dantes!...

(Florbela Espanca)


segunda-feira, 7 de março de 2011

Gente é mais ou menos como rio...

Gente é mais ou menos como rio:
Tem os que gostam de perigo e se lançam de grandes alturas
Tem os de muitos braços que atiram pra todos os lados
Tem os de muitos redemoinhos que comem bois e gente
Tem os que gostam demais de si e viram lago
Tem os que só sabem correr parados
São os empoçados os pantaneiros os alagados
Tem os que transam com a terra formando ilhas
O fundo de alguns é de pedra. Tem os de peixes coloridos
Outros têm água clarinha. E tem gente córrego seco
E tem gente riacho escuro. Alguns a terra engole vivos
E tem até rio que corre pra trás...

Viviane Mosé.

sábado, 5 de março de 2011

Galo da Madrugada

Hoje o maior bloco de rua do mundo saiu contagiando milhares de pessoas...

Ps: neste ano fiquei fora desta folia...

Marcas de alegria





Abertura do carnaval 2011 em Recife.

Frevo,
tambores silenciosos,
ritmos multiculturais,
muita alegria,
muita energia...
Assim é o carnaval em Recife.

















sexta-feira, 4 de março de 2011

Um aprendizado

"Chorar o leito derramado não é tão inútil quanto se diz, é de alguma maneira instrutivo porque nos mostra a verdadeira dimensão da frivolidade de certos procedimentos humanos, porquanto se o leito se derramou, derramado está e só que limpá-lo..."

(José Saramago)


quarta-feira, 2 de março de 2011

"vazio agudo
ando meio
cheio de tudo."

(Paulo Leminski)

terça-feira, 1 de março de 2011

A escrita é a minha primeira morada de silêncio



A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada

esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos

espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar

outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo

(Al Berto)