Com que vigor da minha alma sozinha
fiz página sobre página reclusa,
vivendo sílaba a sílaba a magia falsa,
não do que escrevo
mas do que supunha que escrevia!
Com que encantamento de bruxedo
irónico me julguei poeta da minha prosa,
no momento alado em que ele nascia,
mais rápida do que os movimentos da pena,
como um desforço falaz nos insultos da vida!
E afinal, hoje, relendo,
vejo rebentar meus bonecos,
sair-lhes a palha pelos rasgos,
despejarem-se sem sentido…
(Fernando Pessoa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário