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segunda-feira, 26 de março de 2012

Labirinto

Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto.

(Jorge Luis Borges)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Onde mora a saudades...

Fui em busca de vãs utopias.
Lutei contra moinhos de vento.
Dei murros em ponta de faca.

Quis reter o ultimo raio de sol
Do poente...
E a última gota de água
Da chuva...

Guardei vaga-lumes brilhantes
Em redomas translúcidas...
Guardei os girinos do rio
Em aquários de vidro...

Enchi vidros de água
Com giz colorido.
Quis reter suas cores...
Acreditei... que não desbotariam.

Desbotam...

As águas... As roupas no varal... As aquarelas...
Desbotam os olhos... e as fotografias...

Não venci os moinhos de vento...
Tenho as mãos machucadas
Das pontas de faca....

O sol não me deu o seu último raio...
E a chuva negou-me sua última gota...

Vaga-lumes não fizeram brilhar
Minha lanterna mágica...
E os girinos do rio não se tornaram
Peixes coloridos...

Viraram sapos!

Que inda hoje coaxam
No brejo das almas...
Onde mora a saudade...

(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 2 de maio de 2010

Folhas, ar e terra...

(...)
Escrevo para ser reescrito.
Ando no armazém da neblina, tenso,
sob ameaça do sol.
Masco folhas, provando o ar, a terra lavada.
Depois de morto, tudo pode ser lido.
(...)

(Fabrício Carpinejar)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Morrer tantas vezes durante a vida


A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas.

Há porradas que não tem saída
há um monte de "não era isso que eu queria"
Outro dia, acabei de morrer
depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento.

Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!

Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.

(Elisa Lucinda)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Brevidades


No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009




“É assim que há muito tempo,
... são regidos os destinos políticos.
Política de acaso,
política de compadrio,
política de expediente”

(Eça de Queiroz, “O Distrito de Évora”, 1867).

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A volta


Volto em forma de puzzle

preciso sempre remontar meus pedaços...

segunda-feira, 6 de julho de 2009



"Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida"

(Gustave Flaubert)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Somos um cavalo nadando!


Todos, aviso: todos!, pedem para que me livre da culpa. Assuma meus atos. Não transfira a responsabilidade.

Todos, aviso: todos!, são desencanados, leves, budistas. Ou tentam parecer que se entendem.
A culpa estragaria, a culpa imobilizaria, a culpa nos induziria a enganos. O problema é sempre da culpa.

Não desperdiço, não jogo fora a minha culpa. Minha culpa é pai e mãe, é Espírito Santo. Família é boa para gerar traumas, aproveitemos, traumas são as únicas lembranças que não serão esquecidas.

A culpa nos torna atentos, missionários dos cílios. O homem só é romântico com a culpa. As flores criminosas crescem à vontade na ponta de seus dedos. Homem culpado é humilde e amoroso como um chapéu na cadeira, um avental no gancho. O sexo é muito mais intenso e voraz com a culpa. Trepa-se como se fosse a última vez sempre. Os pais pedem desculpas pela culpa. Largam a arrogância dos castigos pela audição dos pés. Os bichos aprendem seus hábitos pela culpa. Trocam o cativeiro pela obediência.

Culpa, ó palavra bonita, gostosa de se repetir, dádiva próxima do perdão.
Culpa é voltar para o lugar que nascemos. É se arrepender antes de fazer e continuar fazendo. Uma teimosia que nos leva à perfeição dos erros. Um erro perfeito é virtude. A culpa, não consigo parar de repeti-la, não nos resolve, é um tratamento sincero. Não nos salva, é uma verdade médica. Percebemos que sempre nos enganaremos. Mas é se enganar com gosto, com vontade.

Quem procura se curar é careta. A culpa não tem cura, é libertina, libertadora, retirar adrenalina de todo pecado. Ou alguém nunca se sentiu culpado por nascer? Culpado por amar? Culpado por ser sincero? Culpado pelo talento ou pela falta de talento?

Não pretendo pagar a conta sozinho. Sem culpa, eu me isolo, eu me vejo independente e pronto. Consumido. Não há vela que não se derreta por todos os lados. Culpa é minha crisma, minha primeira comunhão, a alegria de saber que Deus está me enxergando.
Culpa me limita, me põe a recuar na raiva, a desistir da arma e da faca, me violenta antes que cometa violências. Ninguém mata o outro com culpa. A culpa é civilizada. Que tenha culpa antes do que depois.

Sem culpa, não existe vida eterna. É vassoura e cinzas. Uma pazinha e acúmulo de asas transparentes na horta.

Sem culpa, não existe literatura, sequer leitor angustiado pelo final da história.
Aproximem-se, fiéis, da culpa. Para comprar um apartamento, dependo de fiador. A culpa é o fiador da memória. A conversa fiada do medo. Não bancarei minhas falhas, não sumirei com a nota fiscal da taverna. Se não gozar, coloque a culpa nela. É melhor do que arrebentar de estresse. Se não for feliz, coloque a culpa nele. É melhor do que acumular pedras nos rins. Não tome as culpas para si, não seja egoísta. Doe sua culpa para doer menos. A culpa é contagiosa.

Não procure manter a pose de esclarecido, centrado, tranqüilo. A teoria não prevê um cavalo atravessando um rio. Somos um cavalo nadando.

(Fabrício Carpinejar)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quando estamos à margem...


Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos.

(Bernardo Soares, in Fernando Pessoa)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Última fatia de 2008...


“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade
de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente…”
(Carlos Drummond de Andrade)