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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Para o dia de hoje



Depois de estar cansado de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento me ter feito frente
Navego com todos os ventos.

(Friedrich Nietzsche)

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

(Martha Medeiros)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Manhã de segunda-feira



O sol tem cheiro de tangerina no inverno.
Vivo descascando as mãos.
(Fabrício Carpinejar)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ordem do dia



Eu abro a janela,
você acende o céu,
o gato toca o guizo.
Se for preciso,
a gente chama a banda,
cobre de lírios o espaço da varanda,
dá um brilho na pátina da areia.
Risca-se o poente com giz colorido
que faça sentido com a pele do mar.
E se, ao final da linha,
o rádio anunciar que tudo deu errado:
a idéia faliu,
a alegria dormiu,
o projeto quedou-se malfadado;
negou-se o teorema,
falhou o sistema,
perdeu-se a teoria,
então, abriremos por fim a nossa caixa,
onde se conservam bem guardados
o sonho, o veludo e a fantasia.

(Flora Figueiredo)



sábado, 16 de maio de 2009

Retirada


Respeite o silêncio
a omissão,
a ausência.
É meu movimento de deserção.
Abandonei o posto,
rompi a corda,
desacreditei de tudo.
Cansei de esperar
que finalmente um dia,
minha fotografia
fizesse jus ao seu criado-mudo.
(Flora Figueredo)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Segunda-Feira de chuva


(...)
O que eu queria era alguém
que me recolhesse como um menino desorientado
numa noite de tempestade,
me colocasse numa cama quente e fofa,
me desse um chá de laranjeira e me contasse uma estória.
(...)
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O tempo me ensinou que os peixes devem ser livres para nadar...



(...) E eis então que caminho para rua, chamo um táxi, entro nele. Eis aí que olho pela janela, vejo o parque, o banco, as pipocas que não comprei. Eis assim que encosto a cabeça no banco, apanho um cigarro e trago longamente. Eis depois que solto a fumaça de um jeito que não sei se é sopro ou suspiro. Eis.

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Amanheci com Drummond...


Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Março


Que etéreo veneno entorpecente
De sonhos infinitos e tranqüilos
Trazes contigo, límpido março azul
Das transparentes distâncias!
Helena Kolody (do livro "A Sombra no Rio", 1951)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Desassossego

O que tenho sobretudo é cansaço, e aquele desassossego que é gemeo do cansaço quando este não tem outra razão de ser senão o estar sendo. Tenho um receio íntimo dos gestos a esboçar, uma timidez intelectual das palavras a dizer. Tudo me parece antecipadamente fruste.
O insuportável tédio de todas estas caras, alvares de inteligência (...)
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Choveu toda noite ... cheiro de infância e uma saudade de outro janeiro ...


(...)
Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
(...)
Manuel de Barros

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

MUDANÇAS


"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma.
Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas.
Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...
Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.
Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

(Clarice Lispector)

domingo, 24 de agosto de 2008

Domingo


"Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado."
Clarice Lispector