domingo, 30 de março de 2008

SURREALISMO

(Cavaleiros do apocalipse (1971). Guache sobre papel de Arches 55x75cm. Coleção particular)

Estaremos presenciando o retorno ou a retomada do "surrealismo"?
Esta é uma questão que diariamente vem a tona nos meios acadêmicos, embora venha da seguinte forma: "o seminário (a aula, a reunião, etc) foi estilo Salvador Dali". Será que quer dizer: "Eu vivo em permanente estado de ereção intelectual" (Salvador Dali)?
O surrealismo surge no princípio dos anos vinte de um grupo de poetas liderados por André Bretón, procedentes do dadaísmo (movimento artístico e literário, aparecido na França em 1916, que preconizava a volta a um primitivismo infantil).É assim um movimento artístico de vanguarda surgido na França que buscava a exteriorização, lingüística ou plástica da espontaneidade e depurações de ordem racional ou moral. Opondo-se ao impulso anárquico de destruição proposto pelos dadaístas, o surrealismo pretendeu definir uma prática artística alternativa à tradicional. Traz com ele o propósito utópico comum a todos os movimentos vanguardistas:" um homem novo em uma sociedade nova".Em 1.924, André Breton, ao publicar seu primeiro manifesto do surrealismo, propôs aos artistas e escritores para que expressassem o pensamento de maneira livre, espontânea e irracional, externando os impulsos da vida interior, sem exercer sobre ele qualquer controle, inclusive de ordem estética ou moral.Segundo André Breton, "Surrealismo é o automatismo psíquico puro pelo qual se propõe expressar, verbalmente, por escrito, ou de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. O pensamento é ditado com ausência de qualquer outro exercício da razão, a margem de toda preocupação com estética ou moral. Em outras palavras: existe outra realidade, tão real e lógica como a exterior, que é a dos sonhos, da fantasia, dos jogos espontâneos do inconsciente que se desenvolve a margem de toda a função filosófica, estética ou moral. Assim, o movimento pretendeu superar a realidade fragmentária e falsa apresentada pela nossa lógica, nossa moral e nossa estética rígida, para chegar a uma realidade superior. Propõe-se assim a afastar o que é convencional e fazer surgir a parte do homem que menos se expressa: o subconsciente.Como estética, o surrealismo quis ir além da mera reprodução da realidade que até o momento imperava. Para o surrealismo toda expressão artística deve referir-se não ao modelo externo, mas sim a outro, o interno, não condicionado por modelos culturais. Para atingir a esse "modelo interior", os surrealistas propuseram uma série de técnicas (automatismo, associações livres, hipnoses, "colagem" etc.) destinadas a liberar o potencial imaginativo e criativo do subconsciente. Desse modo, como característica do movimento podemos enumerar: a natureza aparece nas obras de forma hostil, os seguidores são influenciados pela psicanálise de Freud, sobressai o que é inconsciente, rejeita-se o consciente. O tema principal é o "sonho".Foi assim que fora de qualquer preocupação estética ou moral, nasceu o surrealismo da pintura metafísica ambiental de De Chirico, Carrà e Moran.Entre os principais precursores do surrealismo temos: Willian Blakem Odilon Redon, Hieronymos Bosch e até mesmo Goya. Os inspiradores diretos do movimento foram: Hegel, Apollinaire e principalmente Sigmund Freud. Isso mesmo, aquele da psicanálise.Entre os pintores são citados: Chagal, Max Ernest, Ives Tanguy, André Masson, René Magritte, Picasso, Joan Miró e a grande estrela desse movimento: Salvador Dali.Dalí (Espanha-Figueras 1904-1989) apesar de se incorporar ao surrealismo quando o movimento já contava com alguns anos de existência e se de separar do mesmo relativamente rápido, é considerado pela imensa maioría de público como o paradigma do artista surrealista.Isso se deve não só ao fanatismo com que ele se entregou à expressão onírica e a interpretação dos sonhos, como também à forma deliberadamente provocativa com que se supos exiibir todas as circunstancias íntimas de sua vida e seu pensamento. Dalí foi um pintor surrealista de fanática dedicação. Seu método, chamado de "paranoicocrítico"- pareceu ajustar-se em um todo à sua pintura pela "excitação provocada pelas faculdades de espírito" e pela "organização de uma produção voluntaria e regular do objetivo".Entre os anos 1937-1938, por sugestião do classicismo, Dalí situa a sua arte em uma zona, que, se é heterodoxa à respeito do surrealismo programático, não deixa de estar ligada por fios sutís ao" sistema em vigor". Bretón denunciou a "impureza" e o expulsou do movimento.Hoje em dia a pintura de Dalí pode dizer-se que continua atada à mesma sistemática intima, mesmo quando com uma alteração de nome. Se antes sera "paranoicocrítico", agora se chama "misticismo". Isso se deve a falta de sua associação "legal" ao surrealismo. É por tudo isso, que sua personalidade é distinguida há trinta anos.Quem sabe, a melhor definição "didática" sobre o que seja surrealismo pode ser obtida examinando o quadro quase fotográfico de Cristo, na obra de Dali intitulada "Cristo de San Juan de la Crúz" (1951). Nela, Cristo paira sobre o mundo. Contudo, nossa visão esta acima de Cristo, acima do mundo. Isso só pode acontecer numa visão surrealista.No cinema, em um coprodução com Dali, o espanhol Luís Buñuel, produziu Um Cão Andaluz (1928).Deixando um pouco Dali de lado, retornemos ao tema. Como já foi dito, seguindo os princípios do surrealismo, poetas e pintores extravasaram suas fantasias, de forma livre, procurando encontrar na profundeza da alma e do espírito a realidade objetiva. Os surrealistas buscam essa utopia liberando o mundo para o lado passional, para o inconsciente que havia sido revelado pelo psicanalista Freud. Sonhos e desejos são o material favorito do surrealismo. O artista tenta colocar em contato seu subconsciente com a obra de arte, eliminando a consciência no ato criativo. Serve-se de múltiplos caminhos: os sonhos, os mitos, a fantasia, as visões, as alucinações que produzem as drogas. Com tudo isso, buscam encontrar a percepção sensitiva e as possibilidades de expressão. E o surrealismo, mais além de sua dimensão artística teve um objetivo último, e em certo modo transcendente: atingir uma radical renovação da humanidade, através da transformação de seus esquemas cultuais, pois segundo Breton: "o homem tem guardada em seu próprio pensamento, uma realidade desconhecida da qual depende, sem dúvida, a organização futura do mundo".

domingo, 23 de março de 2008

sábado, 22 de março de 2008

Sabores e Gostos


SENHORA DAS ESPECIARIAS - Chitra Divakaruni


“Sou uma Mestra de Especiarias.Sei lidar com as outras coisas também. Mineral, metal, terra e areia e pedra. As gemas, com aquela luz clara e fria. Os líquidos cujos tons ardem em nossos olhos até nada mais enxergarmos. Aprendi isso tudo lá na ilha.Mas as especiarias são a minha paixão.Conheço a origem de todas, o significado de suas cores, os cheiros. Sei o nome original que cada uma recebeu quando a casca da terra se abriu, oferecendo-a ao céu. Tenho o calor de todas correndo no sangue. Do amchur ao açafrão, elas se curvam às minhas ordens. Basta uma palavrinha e elas liberam para mim suas propriedades ocultas, seus poderes mágicos.Sim, todas elas têm uma magia, mesmo essas mais corriqueiras que a gente põe na panela sem pensar.Está duvidando? Ah. Você esqueceu os segredos antigos que as mães de sua mãe sabiam. Aí vai um deles novamente: esfregar no pulso uma fava de baunilha deixada de molho em leite de cabra espanta mau-olhado. E aí vai outro: uma medida de pimenta-do-reino, em forma de crescente, no pé da cama livra a pessoa de pesadelos.Mas as realmente poderosas vêm da minha terra natal, terra de poesia ardente, plumas cor de água-marinha. Poentes vermelho-sangue.É com essas que trabalho.Se você se colocar no meio dessa sala e for se virando aos poucos, vai ver todas as especiarias indianas já existentes - inclusive as extintas - reunidas nas prateleiras aqui da minha loja.Acho que não é exagero meu dizer que no mundo não existe nenhum lugar como esse.(…)”

sexta-feira, 21 de março de 2008

Never let me go

"Wow. After I jumped, it ocurred to me. Life is perfect. Life is the best, full of magic, beauty, opportunity, and television. And surprises...lot's of surprises, yeah. And then there's the best stuff, of course. Better than anything anyone ever made up, 'cause it's real."

O que era mesmo?

( Mondrian)

Aonde é que eu ia mesmo?

Marta Medeiros - 02.03.2008


Às vezes estou no meu quarto e penso: vou à sala buscar meus óculos. Quando estou no corredor, já esqueci o que ia fazer na salaUma vez escrevi uma crônica que se chamava "Coisa com coisa". Era sobre a minha vexaminosa tendência de trocar o nome das pessoas. Não apenas nomes de pessoas que mal conheço, mas também nomes de parentes. Parentes próximos, como filhos. Com o tempo, comecei a trocar também nomes de objetos, a me embaralhar com os verbos e a perder palavras que estavam na boca da língua. Desculpe, quis dizer na ponta da língua. Ou seja, passei a não dizer mais coisa com coisa.Pois tenho novidades: piorei muito. Às vezes estou no meu quarto e penso: vou à sala buscar meus óculos. Quando estou no corredor, já esqueci o que ia fazer na sala. Quando chego à sala, olho em volta e tento descobrir o que fui fazer ali. Não recordo. Fico feito uma barata tonta: "O que era mesmo?". Volto pro quarto de ré, pra ver se a memória é resgatada no rewind, feito fita rebobinada, mas não adianta. Dali a dois minutos, lembro: ah, eu ia pegar os óculos! Onde mesmo?Tenho comentado isso com alguns amigos, na esperança de que me olhem com piedade e me recomendem um bom médico, mas o que mais escuto é: "Comigo tem sido a mesma coisa". Pesquisei com conhecidos dos 19 aos 90 anos. Com todos tem sido assim. Alzheimer geral. Tem alguma coisa errada, e não é só comigo.Li recentemente uma matéria que associa a falta de memória com a falta de sono. É uma teoria. Os especialistas entrevistados para a matéria recomendam que a gente não abra mão de dormir oito horas seguidas. Dizem que isso não é balela, que ajuda mesmo o cérebro a descansar e a retomar as tarefas do dia seguinte com funcionamento pleno. Maravilha. Oito horas de sono. Me explique como.Eu apago a luz cedo. Antes da meia-noite. Às vezes às 22h30min. Tenho perdido o Saia Justa por causa disso. O Manhattan Connection. A minissérie Queridos Amigos. Meu sono está me emburrecendo, mas quando os olhos pesam, não há outra saída a não ser capitular. Desligo o abajur e apago junto na mesma hora. Só que às 4h da matina minha cabeça acorda sozinha! A cabeça, essa maldita. Ela então faz um apanhado geral dos problemas a serem resolvidos no dia seguinte. Na verdade, nem problemas são, mas durante a madrugada qualquer unha encravada vira um câncer terminal. Você sabe como é, a noite potencializa o drama. Então fico eu ali fritando nos lençóis, pensando, pensando. Verbo desgraçado: pensar.Quando consigo pegar no sono de novo, o despertador faz o seu serviço: me desperta. Cedíssimo: hora de levar os filhos (o nome deles, mesmo?) ao colégio. Há quem tenha reunião no escritório. Outros, massagem. Outros precisam ir para a parada de ônibus. Quem consegue hoje em dia dormir oito horas de sono cravado? Os milionários, e nem eles, eu acho. Tampouco tenho sonhado. Não há sono suficiente para criar uma historinha com começo, meio e fim. Freud teria dificuldade em trabalhar hoje em dia: dorme-se pouco. E lembra-se menos ainda. Fim de era para o descanso e a memória. Do que eu estava falando mesmo?A solução é mudar a rotina. Ver menos televisão. Ter menos obrigações. Morar em lugares mais silenciosos. Ter menos vida noturna. Menos compromissos. Menos agenda. Menos e-mails. Menos contatos profissionais, mais amigos. Menos trabalho, mais férias. Menos filhos: é difícil decorar dois nomes. Filho único é mais fácil. E deixar de frescura e pendurar logo aquele troço medonho que prende as hastes dos óculos ao nosso pescoço.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Páscoa

Não importa saber se a gente acredita em Deus: o importante é saber se Deus acredita na gente... (Mário Quintana)
De qualquer forma "Feliz Páscoa" !

PERPLEXIDADE


PERPLEXITY

Not sure just where

I lost my way,

Or whether

I lost it at all.Still,

I can't help thinking it odd

That this had always been my lot.

(Antônio Cícero)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Hipocrisisa


Somos prisioneiros dos desejos impenitentes?

A mordaça que nos cala
O desejo que nos oprime
A distância que nos cega
Logo nós que nos valemos da reflexão enquanto percurso para a liberdade...

Somos capazes de viver o nosso tempo?
Tempo de hipocrisia: tudo tem um valor de uso e um valor de troca
Então, porque tanta mentira nesta vida?
Se não há utilidade numa relação porque investir? Esta é a verdade!
A lógica das velhas relações já têm “tradição”
Já fez carreira
Já qualificou currículo

Amar verbo do passado
Usado
Gastado
Desgastado
Fora da moda

O verbo agora é “submissão”
Eu não amo... mas preciso
Eu não sei...mas digo que adoro
Eu quero...mas não posso
Tudo muito insólido
Tudo muito insonso
Tudo muito falso!

Então!
Somos prisioneiros dos desejos impenitentes?
Ou somos prisioneiros de desejos
Incontinentes?
Inconfidentes?
Inconsistentes?
Impossíveis?

(V.A.)

Para nossos amores ... saudades ....











Amor
Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente.
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
(Mário Quintana)

domingo, 16 de março de 2008

ALBERT CAMUS


DO MAR BEM PERTO - Diário de bordo

CRESCI no mar e a pobreza me foi faustosa; depois, quando perdi o mar, todos os luxos passaram a ter para mim aparência opaca e a miséria tornou-se intolerável. Desde então espero. Espero as naves do retorno, a morada das águas, o dia límpido. Aguardo pacientemente com todas as minhas forças muito bem brunidas. Quando me vêem passar pelas ruas belas e sábias, admiro as paisagens, aplaudo como todo o mundo, dou a mão, mas não sou eu quem fala. Se recebo louvores, sonho um pouco; se me ofendem, espanto-me menos ainda. Depois, esqueço e sorrio a quem me ultraja ou então cumprimento com excessiva cortesia a quem estimo. Que fazer, se minha mem6ria existe .Jpenas para uma s6 imagem? Por fim, sou intimado a dizer quem sou.IINada ainda, nada ainda..:"
É nos enterros que costumo superar-me. Na realidade, sobrepujo-me a mim mesmo. Caminho com passo lento pelos arrabaldes floridos de ferros velhos, sigo por amplas ruas ajardinadas, plantadas de árvores de cimento e que conduzem aos buracos de terra fria. Ali, sob o penso de gaze levemente avermelhada do céu, olho com atenção companheiros corajosos sepultarem meus amigos a três metros de profundidade. Nesses momentos, a flor que me é entregue por uma mão qualquer suja de barro, ja­mais erra o alvo da fossa quando atirada pôr mim. Tenho a dose precisa de piedade, o exato grau de emoção, a nuca convenientemente inclinada. Admi­ram-se de que minhas palavras sejam justas. Porém, não tenho nenhum mérito: espero.
Espero há muito tempo. Por vezes, tropeço, perco a mão, deixo de acertar. Isso pouco importa, estou só nesses momentos. Assim, acordo no meio da noite e parece-me ouvir, ainda semi-adormecido, um barulho de ondas, movimento de águas a respirar. Totalmente desperto, reconheço o vento nas folha­gens e o rumor infausto da cidade deserta. Quando isso ocorre, todas as artimanhas que possa empregar parecem-me ainda insuficientes para esconder minha angústia ou trajá-Ia com as vestes da moda.
Noutras ocasiões, ao contrário, sou ajudado. Em Nova York, certos dias, perdido no fundo desses poços de pedra e aço onde vagueiam milhões de homens, eu corria de um para outro, sem conseguir avistar o cimo, já esgotado, a ponto de cair ao chão, e sendo sustentado apenas pela própria màssa hu­mana que também buscava uma saída. Sentindo-me à beira da asfixia, meu pânico ia gritar. Mas, cada vez que isso acontecia, o chamamento longínquo de um rebocador vinha lembrar-me que essa cidade, cisterna solitária, era uma ilha, e que na extremidade dá Battery a água de meu batismo esperava-me negra e podre, coberta de cortiças ocas.
Assim, eu, que nada possuo, que a outros dei minha fortuna, que costumo acampar junto a todas as minhas casas, sinto-me, apesar de tudo, plena­mente satisfeito quando quero; a todas as horas preparo-me para levantar ferros, o desespero me ignora. Não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Arthur Rimbaud


LE BATEAU IVRE

Comme je descendais des Fleuves impassibles, Je ne me sentais plus tiré par les haleurs : Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs. J’étais insoucieux de tous les équipages, Porteur de blés flamands et de cotons anglais. Quand avec mes haleurs ont fini ces tapages Les Fleuves m’ont laissé descendre où je voulais. Dans les clapotements furieux des marées, Moi, l’autre hiver, plus sourd que les cerveaux d’enfants, Je courrus ! Et les Péninsules démarrées N’ont pas subi tohu-bohus plus triomphants. La tempête a béni mes éveils maritimes. Plus léger qu’un bouchon j’ai dansé sur les flots Qu’on appelle rouleurs éternels de victimes, Dix nuits, sans regretter l’oeil niais des falots ! Et dès lors, je me suis baigné dans le Poème De la Mer, infusé d’astres, et lactescent, Dévorant les azurs verts ; où, flottaison blême Et ravie, un noyé pensif parfois descend ; Où, teignant tout à coup les bleuiés, délires Et rythmes lents sous les rutilements du jour, Plus fortes que l’alcool, plus vastes que nos lyres, Fermentent les rousseurs amères de l’amour ! Je sais les cieux crevant en éclairs, et les trombes Et les ressacs et les courants : Je sais le soir, L’aube exaltée ainsi qu’un peuple de colombes, Et j’ai vu quelques fois ce que l’homme a cru voir ! J’ai vu le soleil bas, taché d’horreurs mystiques, Illuminant de longs figements violets, Pareils à des acteurs de drames très-antiques Les flots roulant au loin leurs frissonsde volets ! J’ai révé la nuit verte aux neiges éblouies, Baiser montant aux yeux des mers avec lenteurs, La circulation des sèves inouïes Et l’éveil jaune et bleu des phosphores chanteurs ! J’ai suivi, des mois pleins, pareilles aux vacheries Hystériques, la houle à l’assaut des récifs, Sans songer que les pieds lumineux des Maries Pussent forcer le mufle aux Océans poussifs ! J’ai heurté, savez-vous, d’incroyables Florides Mêlant aux fleurs des yeux des panthères à peaux D’hommes ! Des arcs-en-ciel tendus comme des brides Sous l’horizon des mers, à de glauques troupeaux ! J’ai vu fermenter les marais énormes, nasses Où pourrit dans les joncs tout un Léviathan ! Des écroulement d’eau au milieu des bonacees, Et les lointains vers les gouffres cataractant ! Glaciers, soleils d’argent, flots nacreux, cieux de braises ! échouages hideux au fond des golfes bruns Où les serpents géants dévorés de punaises Choient, des arbres tordus, avec de noirs parfums ! J’aurais voulu montrer aux enfants ces dorades Du flot bleu, ces poissons d’or, ces poissons chantants. - Des écumes de fleurs ont bercé mes déérades Et d’ineffables vents m’ont ailé par instant. Parfois, martyr lassé des pôles et des zones, La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux Montait vers moi ses fleurs d’ombres aux ventouses jaunes Et je restais, ainsi qu’une femme à genoux… Presque île, balottant sur mes bords les querelles Et les fientes d’oiseaux clabotteurs aux yeux blonds. Et je voguais lorqu’à travers mes liens frêles Des noyés descendaient dormir à reculons ! Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses, Jeté par l’ouragan dans l’éther sans oiseau, Moi dont les Monitors et les voiliers des Hanses N’auraient pas repéché la carcasse ivre d’eau ; Libre, fumant, monté de brumes violettes, Moi qui trouais le ciel rougeoyant comme un mur Qui porte, confiture exquise aux bons poètes, Des lichens de soleil et des morves d’azur ; Qui courais, taché de lunules électriques, Planche folle, escorté des hippocampes noirs, Quand les juillets faisaient couler à coups de trique Les cieux ultramarins aux ardents entonnoirs ; Moi qui tremblais, sentant geindre à cinquante lieues Le rut des Béhémots et les Maelstroms épais, Fileur éternel des immobilités bleues, Je regrette l’Europe aux anciens parapets ! J’ai vu des archipels sidéraux ! et des îles Dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur : - Est-ce en ces nuits sans fond que tu dors et t’exiles, Million d’oiseaux d’or, ô future vigueur ? - Mais, vrai, j’ai trop pleuré ! Les Aubes sont navrantes. Toute lune est atroce et tout soleil amer : L’âcre amour m’a gonflé de torpeurs enivrantes . Ô que ma quille éclate ! Ô que j’aille à la mer ! Si je désire une eau d’Europe, c’est la flache Noire et froide où vers le crépuscule embaumé Un enfant accroupi plein de tristesses, lâche Un bateau frêle comme un papillon de mai. Je ne puis plus, baigné de vos langueurs, ô lames, Enlever leurs sillages aux porteurs de cotons, Ni traverser l’orgueil des drapeaux et des flammes, Ni nager sous les yeux horribles des pontons.
In O BARCO BÊBADO, Texto Bilingue, HENA EDITORA, Lisboa, 1985