quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009 vem chegando!

Que venha 2009 ... e traga ...
Paz
Ternura
Saúde
Encantos
Encontros
Poesias
(...)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Última fatia de 2008...


“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade
de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente…”
(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Sinais evaporados a grafite

foram os teus sinais de espada que me deram o nó.
na dissoluta e aérea boca do tempo deslacei a carta.
evaporada a grafite deixo-te o golpe.
como luz.
ou cicatriz.
nada que não possas entender no monólogo das manhãs sem domínios.
dominós de ais.
como poros.
ou ravinas.
(Isabel Mendes Ferreira)

sábado, 27 de dezembro de 2008

... estranha sensação


Pareço uma destas árvores que se transplantam,
que têm má saúde no país novo,
mas que morrem se voltam à terra natal.
(Caio Fernando Abreu, in Estranhos Estrangeiros)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Cheiro de mata ... frio ... vinho ... lembranças ... ausências...


Saudade é não saber.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
não saber como encontrar tarefas
que lhe cessem o pensamento,
não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
não saber como vencer a dor
de um silêncio que nada preenche.
(Martha Medeiros)

Canção ... Poema ... Venenos ...



Uma canção é uma canção é um poema.

Um poema é um poema é um veneno.

(Iza Pessôa)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

... já é NATAL!

O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é quarta-feira!
Quando se vê, já é NATAL...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia,
outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente
e iria jogando pelo caminho
a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente
e diria que eu o amo...
E tem mais:
não deixe de fazer algo de que gosta
devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado
por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que,
infelizmente, nunca mais voltará.
(Mário Quintana)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Designo

BOTELLA AL MAR
Pongo estos seis versos
en mi botella al mar
con el secreto designio
de que algún día
llegue a una playa
casi desierta
y un niño la encuentre
y la destape
y en lugar de versos
extraiga piedritas
y socorros
y alertas
y caracoles.

Mario Benedetti







quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Claro feito dia ...

CANTEIROS
Quando penso em você fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento
Pode ser até manhã, cedo claro feito dia
mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Para correr entre os canteiros e esconder minha tristeza
Que eu ainda sou bem moço para tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.
(Fagner - Obra Cecília Meireles)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ei! O que você gostaria de sonhar esta noite?

ESCOLHA SEU SONHO

Devíamos poder preparar os nossos sonhos como os artistas as suas composições. Com a matéria sutil da noite e da nossa alma, devíamos poder construir essas pequenas obras-primas incomunicáveis, que, ainda menos que a rosa, duram apenas o instante em que vão sendo sonhadas, e logo se apagam sem outro vestígio que a nossa memória.

Como quem resolve uma viagem, devíamos poder escolher essas excursões sem veículos nem companhia – por mares, grutas, neves, montanhas, e até pelos astros, onde moram desde sempre heróis e deuses de todas as mitologias, e os fabulosos animais do Zodíaco.

Devíamos, à vontade, passear pelas margens do Paraíba, lá onde suas espumas crespas correm com o luar por entre as pedras, ao mesmo tempo cantando e chorando. Ou habitar uma tarde prateada de Florença, e ir sorrindo para cada estátua dos palácios e das ruas, como quem saúda muitas famílias de mármore… - Ou contemplar nos Açores hortências da altura de uma casa, lagos de duas cores, e cestos de vime nascendo entre fontes, com águas frias de um lado e, do outro quentes… – Ou chegar a Ouro Preto e continuar a ouvir aquela menina que estuda piano há duzentos anos, hesitante e invisível – enquanto o cavalo branco escolhe, de olhos baixos o trevo de quatro folhas que vai comer…

Quantos lugares, meu Deus, para essas excursões! Lugares recordados ou apenas imaginados. Campos orientais atravessados por nuvens de pavões. Ruas amarelas de pó, amarelas de sol, onde os camelos de perfil de gôndola, estacionam com seus carros.Avenidas cor de rosa, por onde, cavalinhos emplumados, de rosa na testa e colar ao pescoço, conduzem leves e elegantes policromos…

…E lugares inventados, feitos ao nosso gosto: jardins no meio do mar; pianos brancos que tocam sozinhos; livros que se desarmam, transformados em música…

Oh! Os sonhos do “Poronominare”!… Lembram-se!

Sonhos dos nossos índios: rios que vão subindo por cima das ilhas:…meninos transparentes, que deixam ver a luz do sol do outro lado do corpo …gente com a cabeça de pássaro…flechas voando atrás de sombras velozes… moças que se transformam em guaribas…canoas … serras… bando de beija-flores e borboletas que trazem mel para a criança que tem fome e a levantam em suas asas…

Devíamos poder sonhar com as criaturas que nunca vimos e gostaríamos de ter visto: Alexandre, o Grande; São João Batista; o Rei David, a cantar; o Príncipe Gáutama…

E sonhar com os que amamos e conhecemos, e estão perto ou longe, vivos ou mortos… Sonhar com eles no seu melhor momento, quando foram mais merecedores de amor imortal….

Ah!… – que gostaria você de sonhar esta noite?
(Cecília Meireles)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Esperar o nascer de um novo dia




Como nascem as manhãs

O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça em campo aberto.
Pálpebras cerradas, a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.
Cai um pingo de luz.
Amanhece.
(Flora Figueiredo)


Esperar


O vento anda ficando mentiroso.

Prometeu trazer você, não trouxe.

Ficou de dizer o porquê, não disse.

Esperou que eu me distraísse,

passou depressa, rumo ao horizonte.

Já não tem importância

que cometa outra vez,

um ato de inconstância...

Aprendi a esperar...

Se ventos são capazes de levar embora,

a qualquer hora, também,

são capazes de fazer voltar.

(Flora Figueiredo)

domingo, 14 de dezembro de 2008

No mais...

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz
No mais estou indo embora!
No mais!...
(Zé Ramalho)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Metamorfoses

A cada dia compomos
compassos de nossas vidas
abrimos caminhos e curvas
vibramos e ressoamos
com dores e alegrias
pintamos almas e notas
com sonhos ou sinfonias...
A cada volta ou encontro
em tons e semitons, matizes
viajamos ao fundo do abismo
tocamos estrelas, raízes
sentimos, inventamos sentidos
entre sonoridade e silêncio
tecemos rendas e fuzas
claves de sol e colcheias
entre andantes ou chuvas!
(Ana Luisa Kaminiski)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A felicidade é clandestina


Às seis horas da manhã, a mulher entra no mar: este, o mais ininteligível das existências não humanas; ela, o mais ininteligível dos seres vivos.
Ela vai entrando, cumprindo uma coragem. Avançando, abre o mar pelo meio. Ela brinca com a água. Com a concha das mãos cheia de água, bebe em goles grandes.
“E era isso o que lhe estava faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem.Agora ela está toda igual a si mesma.”
Mergulha de novo, de novo bebe mais água. Como contra os costados de um navio, a água bate, volta, não recebe transmissões. Depois caminha na água e volta à praia. Agora, pisa na areia.
“E sabe de algum modo obscuro que seus cabelos escorridos são de um náufrago. Porque sabe – sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano.”

Clarice Lispector - Felicidade Clandestina

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta


“II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente”
(Camilie Claudel)



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Esperarei pelo tempo...



O tempo seca a beleza,
seca o amor,
seca as palavras,
Deixa tudo solto,
leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas,
Esperarei que te seque,
não na terra,
Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

(Cecília Meireles)




segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Qual máscara estará sendo usada hoje?


"O homem tem duas almas:
uma que olha de dentro para fora
e outra
que olha de fora para dentro".
(Machado de Assis)
... mas descobro também que
usa muitas máscaras [múltiplas faces],
cada uma adequada ao seu momento,
ao seu interesse,
aos seus ganhos...

domingo, 7 de dezembro de 2008

... tudo aos poucos se esclarece

“... tudo aos poucos vira dia e a vida -
ah, vida -
pode ser medo e mel
quando você se entrega e vê,
mesmo de longe."
(Caio Fernando de Abreu)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Interrogações & nada


"Tive a desgraça de me interrogar
sobre meu papel e meu destino.
Indaguei:
'Enfim, de que se trata?'
e, no mesmo instante,
acreditei estar tudo perdido.
Não se tratava de nada."
(Sartre)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Palavras ... simples, inexistentes, faladas, escritas, não ditas...


Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.
Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também.
Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas.
Cada vez mais eu escrevo com menos palavras.
Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever.
Eu tenho uma falta de assunto essencial.
Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem".
(Clarice Lispector)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Tempo de renúncias




“Este é o tempo
da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.”

Sophia de Mello Breyner, Mar Morto (1962)