terça-feira, 30 de setembro de 2008

Faltando um pedaço

Faltando um Pedaço
O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha
O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho
O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Somos quem podemos ser ... Sonhos que podemos ter...

SOMOS QUEM PODEMOS SER

Engenheiros do Hawaii - Composição: Humberto Gessinger

Um dia me disseram
Que as nuvens
Não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos
Às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração...
A vida imita o vídeo
Garotos inventam
Um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez...
Um dia me disseram
Quem eram os donos
Da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem
Essa prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro, ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum...
Um dia me disseram
Que as nuvens
Não eram de algodão
Sem querer eles me deram
as chaves que abrem essa prisão...
Quem ocupa o trono
Tem culpa
Quem oculta o crime
Também
Quem duvida da vida
Tem culpa
Quem evita a dúvida
Também tem...
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...

domingo, 28 de setembro de 2008

... ou de um verão, num espaço vazio


GRÃO


Quando se é planta,
quando se é verde,
pega-se um grão, pequena semente\
e deixa numa parte que se supunha
ser da gente, só para ver se germina
depois se cruza as mãos
e põe toda a fé para chover
só para ver se a gente cresce
quem sabe floresce
dentro daquele coração
de repente somos flores,
de repente somos árvores,
de repente somos grama,
de repente ficamos grãos,
mas isso não é motivo de
tristeza ou de frustração
nem todo coração
suporta o nascer de
uma primavera

(Cáh Morandi)



OS ESPAÇOS VAZIOS

Nunca soube o que fazer
com os espaços que ficam
depois que alguém vai embora
uma dúvida insiste
e de tanto, o meu tentar desiste
de trocar a ausência
por qualquer coisa que fira menos:
nada para repor
nada para suprir
nada que realmente comportasse
o encanto de algo que ficou
para trás
(Cáh Morandi)

sábado, 27 de setembro de 2008

... se fosse possível...

Esquecer alguém é como
esquecer-se de apagar a luz da entrada:
no dia seguinte continua acesa,
depois é a luz que nos faz lembrar.

(Yehuda Amichai)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Camus para sexta-feira...


"Vou-lhe dizer um grande segredo, meu caro.
Não espere o juízo final.
Ele realiza-se todos os dias."
(Albert Camus)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Perguntas e Respostas


"Fico pensando se viver não será sinônimo de perguntar. A gente se debate, busca, segura o fato com duas mãos sedentas e pensa: “Achei! Achei!”, mas ele escorrega, se espatifa em mil pedaços, como um vaso de barro coberto apenas por uma leve camada de louça. A gente fica só, outra vez, e tem que começar do nada, correndo loucamente em busca dos outros vasos que vê.
Cada um que surge parece o último. Mas todos são de barro, quebram-se antes que possamos reformular as perguntas. E começamos de novo, mais uma vez, dia após dia, ano após ano.
Um dia a gente chega na frente do espelho e descobre: “Envelheci.” Então a busca termina. As perguntas calam no fundo da garganta, e vem a morte.
Que talvez seja a grande resposta. A única”.
(Caio Fernando Abreu in Limite Branco)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Se aprender já é difícil, imagine desaprender! Estou nesta fase...


Aprendendo a Desaprender

Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender… praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado.
A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito “sabe-tudo”. Pois é.
E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia?
As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.
Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho.
Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado.
Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder da nossa voz.
Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os demais seguiram em frente.
A solução é voltar ao marco zero.
Desaprender para aprender.
Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida.
Basta desaprender o receio de mudar.
(Martha Medeiros)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A LIBERDADE liberta ou aprisiona?

O medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas.
Muletas
do homem só.
Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Recordando o domingo...


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

sábado, 20 de setembro de 2008

Convicções e Idéias

IMPASSE
A maioria das gentes vive de convicções e não de idéias.
É uma sorte.
O homem de idéias pode por isso mesmo vir a abandoná-las honestamente por outras,
mas o homem de convicções, nunca!
O que deixa de ser um azar.
Pois sendo as mesmas inabaláveis convicções que movem este mundo,
o resultado é esse eterno desconcerto.
(Mário Quintana)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O entardecer é melancólico...



Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém
que o que mais queremos
é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.
(Clarice Lispector)

Tem dias que a gente se sente ...


Roda Viva

Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
(...)
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A VIDA E SUAS CONTRADIÇÕES


"E a vida nada mais é do que uma viagem ...”
(Bob Dylan)
“Nada do que foi será
do mesmo jeito que já foi um dia...
tudo passa tudo sempre passará..."
(Lulu Santos)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Chegando o Final...


Para cuando Sobrevenga el Final

(Gito Minore)

Y si solo queda silencio,
el insomnio de una canilla
que no se cansa de gotear.
Y si solo queda por contar
una historia sin historia,
la noche nulade 40 cigarrillos
aplastándose sin sentido.
Y si solo se trata de retratar siempre
el mismo paisaje siempre,
la misma ventana siempre,
la misma miseria siempre.
Y si este corazón se durmió
de anestesia localy se siente superfluo
latiendo a medio motor,
llorando a lágrima falsa.
Y si solo quedó por disfrutar
esta paz de lexotanil,
este canto tedioso,
esta melodía monótona,
esta soledad de dos plazas.
Para cuando sobrevenga
el final improvisado
no quedará más que un" resígnese hermano "
para pagar la entrada a la eternidad,
o a la nada que nos espere.
Nos quedarán solo
los músculos cansados, solo
los labios cansados, solo
las manos cansadas, solo
los dedos cansados, solo
para justificar
esta ausencia de existencia
que nunca nos cansamos
de dar por sobre
entendida
presente, mediocree irónicamente
especial y eterna

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Tristeza...

“Tristeza é quando chove
quando está calor demais
quando o corpo dói
e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem
nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar"
(Marta Medeiros)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Iniciando a segunda-feira...


Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu;
é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil,
tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza,
e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim,
no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom,
de paz e de alegria.
É ver no lago um mar,
nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente,
o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.
(Helena Kolody)

domingo, 14 de setembro de 2008

AH, VIDA...


Há coisas que só depois é que começam a doer ...
(Mário Quintana)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

E eu me pergunto

E eu me pergunto
se viver não será
essa espécie de ciranda de sentimentos
que se sucedem
e se sucedem
e deixam sempre
sede no fim.
(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Tudo bem ...

Não se tocar,
não pedir um abraço,
não ri,
não dizer nada,
não pedir ajuda,
não dizer que estou ferida,
que quase morri,
fechar os olhos,
ouvir o barulho do mar,
fingindo dormir,
que tudo está bem,
os hematomas no plexo solar,
o coração rasgado,
tudo bem...
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sonhos

"Nada lhe pertence mais que seus sonhos."
(Nietzsche)

domingo, 7 de setembro de 2008

Até breve...

"Sabendo que o breve dura o quanto quisermos
E que o para sempre é só uma questão a se acordar"
(Fernando Belo)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

MUDANÇAS...

"Mas este me parece um profundo desejo de mudança de vida.
Não precisa ser feliz sequer.
Basta ano novo.
E é tão difícil mudar.
Às vezes escorre sangue."
(Clarice Lispector

Caminhos e escolhas

"É como se agente não soubesse
Pra que lado foi a vida
Por que tanta solidão
E não é a dor que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão"
(Pedro Camargo Mariano)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Para o dia de hoje ... silêncio...


O Silêncio

Há um grande silêncio que está sempre à escuta...
E a gente se põe a dizer inquietamente qualquer coisa,
qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até a tua dúvida metafísica, Hamleto!
E, por todo o sempre,
enquanto a gente fala, fala, fala o silêncio escuta...
e cala.
(Mário Quintana)