sábado, 31 de maio de 2008

GEADA FRIA


Desgarrados
Composição: Sérgio Napp / Mário Barbará
" Sopram ventos desgarrados,
carregados de saudade
Viram copos viram mundos,
mas o que foi nunca mais será.
Cevavam mate,
sorriso franco,
palheiro aceso
Viraram brasas,
contavam casos,
polindo esporas,
Geada fria,
café bem quente,
muito alvoroço,
Arreios firmes e nos pescoços lenços vermelhos.
jogo do osso, cana de espera e o pão de forno
O milho assado, a carne gorda, a cancha reta
Faziam planos e nem sabiam que eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho."


sexta-feira, 30 de maio de 2008

DELICADEZA E LEVEZA


Perguntas em forma de cavalo-marinho

Que metro serve
Para medir-nos?
Que forma é nossa
e que conteúdo?
Contemos algo?
Somos contidos?
Dão-nos um nome?
Estamos vivos?
A que aspiramos?
Que possuímos?
Que relembramos?
Onde jazemos?
(Nunca se finda
nem se criara.
Mistério é o tempo,
inigualável.)
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 28 de maio de 2008

La Vida ...


"La vida es más compleja de Lo que parece"
Jorge Drexler

terça-feira, 27 de maio de 2008

FALSIDADES, HIPOCRESIA E CIA LTDA


Quantos falsos
Palavras de pilhéria
Suspiros de lado com palavras-disparates

Quantos falsos
Adulações adocicadas
Protestos ma non troppo
Frases que contém desastres

Quantos falsos
Que gritam corretas atitudes
Que mastigam a sua própria arrogância
E cospem uma fragilidade fake

Quantos falsos
Parecendo vidros transparentes
Com rótulos de instruções serenas
Que espreitam pela queda
O deslize
O tropeço

Quantos falsos
E vão estender a mão
A outra escondida em figas
O sorriso do gato de Alice
Do alto do mais nobre falsete
(Karen Debértolis)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fechando a porta da segunda-feira

Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.
Flora Figueiredo

domingo, 25 de maio de 2008

SUAVIDADE



SE

Se já me esqueceu,
Me diga com a simplicidade do branco.

Se me abandonou,
Demonstre com a profundidade do mar.

Mas faça com ternura,
Porque a beleza do que foi,
E a leveza das palavras,
Não precisam arranhar a melodia,
E nem sangrar as tatuagens.

Vani Alizo

DOMINGO...


"Domingo é o dia dos ecos –
quentes, secos,
e em toda a parte zumbidos de abelhas e vespas,
gritos de pássaros e o longínquo das marteladas compassadas –
de onde vêm os ecos de domingo?
Eu que detesto domingo por ser oco."
Clarice Lispector

sexta-feira, 23 de maio de 2008

SOM DAS CORDAS

Adoro o som das cordas...

Cordas são como o vento,
Leves...
Precisas...
Fortes...
Inprevissíveis.

Cordas são como o sol - quentes...
Como a noite - misteriosas...
Como o entardecer - melancólicas...

Cordas são como a Vida,
Tem os altos das conquistas...
E os baixos das perdas...
(...)

JFP

ACADEMIAS & CIA LTDA DE QUINTANA




"(...) o acadêmico comete um meio-suicídio,

dedicando metade da vida a solenidades e rapapés,

quando poderia empregá-la toda no silêncio

e no recolhimento da criação literária."



"(...) E continuarei sempre a ler,

com a alegria de um descobrimento,

o velho Machado, Tchecov, Dostoievski

e outros rapazes eternamente jovens."


"O teatro dos acontecimentos" -

eis aí uma velha expressão que significa

muito mais do que parece.

Será que tudo não passa mesmo de um

faz-de-conta?"


Mário Quintana

quinta-feira, 22 de maio de 2008

NINGUÉM PODE SABER ...


Por favor, chame-me pelos meus verdadeiros nomes
(Thich Nhat Hanh, trad. Samuel Weimar Cavalcante)
Não diga que partirei amanhã,
pois hoje mesmo estarei chegando.
Olhe profundamente: eu chego em cada segundo
para ser um botão de rosa num galho da primavera,
para ser um passarinho, com as asinhas ainda frágeis,
aprendendo a cantar em meu novo ninho,
para ser uma lagarta no coração da flor,
para ser uma jóia se escondendo em uma pedra.
Estou chegando para poder rir e chorar,
para temer e ter esperança.
O ritmo do meu coração é o nascimento e a
morte de tudo o que é vivo.
Sou a efemérida metamorfoseando-se na superfície do rio,
e sou o pássaro que, quando chega a primavera, vem a tempo
de comer a efemérida.
Sou a rã nadando alegremente no lago límpido,
e também sou a serpente que, aproximando-se em silêncio,
se alimenta da rã.
Eu sou a criança em Uganda, só pele e osso,
com minhas pernas finas como varas de bambu,
e sou o vendedor de armas, vendendo armas letais para Uganda.
Sou a garota de doze anos, refugiada num pequeno barco,
que se joga ao mar depois de ser estuprada por um pirata,
e sou o pirata, com meu coração ainda incapaz de ver e amar.
Sou um membro do Politburo, com enorme poder em minhas mãos,
e sou o homem que tem que pagar sua "dívida de sangue" ao meu povo,
morrendo lentamente em campo de trabalhos forçados.
Minha alegria é como a primavera,
cujo calor faz as flores brotarem
em todos os jardins da vida.
Minha dor é como um rio de lágrimas
que, de tão cheio, enche os quatro oceanos.
Por favor, chama-me pelos meu nomes verdadeiros,
para que eu possa ouvir todo o choro e todo o riso de uma vez,
para que eu possa ver que minha alegria e minha tristeza são uma só.
Por favor, chama-me pelos meus nomes verdadeiros,
para que eu possa despertar
e, assim, deixar a porta do meu coração aberto,
a porta da compaixão.
Refletindo sobre a poesia ou explicando porque "ninguém pode saber"...

Thich Nhat Hanh
Em Plum Village, onde vivo na França, recebemos muitas cartas dos campos de refugiados de Cingapura, da Malásia, Indonésia, Tailândia e das Filipinas. Centenas a cada semana. E muito triste ler essas cartas, mas temos de fazê-lo, temos de nos manter em contato. Fazemos o possível para ajudar, mas o sofrimento é tamanho que às vezes desanimamos. Dizem que metade dos refugiados que fogem em barcos morre no mar. Só metade chega às costas do sudeste da Ásia, e mesmo nesse caso eles podem não estar em segurança.
Muitas meninas, dos refugiados em barcos, são violentadas por piratas. Muito embora as Nações Unidas e muitos países tentem ajudar o governo da Tailândia a acabar com essa pirataria, os piratas continuam a infligir muito sofrimento aos refugiados em barcos. Um dia recebemos uma carta de um refugiado que nos contava a história de uma menina num pequeno barco que foi violentada por um pirata tailandês. Ela só tinha doze anos. Jogou-se no oceano e morreu afogada.
Quando você ouve uma história dessas pela primeira vez, você sente raiva do pirata. Naturalmente toma o partido da menina. A medida que examinar o assunto com maior profundidade, verá tudo de um modo diferente. Se você tomar o partido da menina, é fácil. Basta pegar uma arma e matar o pirata. No entanto, não podemos agir assim. Na minha meditação, vi que, se eu tivesse nascido na aldeia em que o pirata nasceu e tivesse sido criado como ele foi, haveria uma grande probabilidade de que eu me tornasse pirata também. Vi que muitos bebês nascem nas costas do golfo do Sido, centenas a cada dia. Se os educadores, os assistentes sociais, os políticos e outras pessoas não fizerem algo para mudar sua situação, daqui a vinte .e cinco anos uma quantidade deles vai ser pirata. Isso é líquido e certo. Se você ou eu nascêssemos hoje numa daquelas aldeias de pescadores, dentro de vinte e cinco anos poderíamos nos tornar piratas. Quem pega a arma e mata o pirata está matando a todos nós, porque todos nós até certo ponto somos responsáveis por esse estado de coisas.
Depois de uma longa meditação, escrevi o poema. Nele, há três pessoas: a menina de doze anos, o pirata e eu. Será que podemos olhar um para o outro e nos reconhecer no outro? O título do poema é "Chame-me pelos meus nomes verdadeiros, por favor", porque eu tenho muitos nomes. Sempre que ouço um desses nomes, tenho de dizer, "Sim".

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Silêncio é a melhor Palavra ...


MEU SILÊNCIO É A PALAVRA
Lau Siqueira
Ando provocado quanto à fala.
Mas, tenho buscado o silêncio.
Meus olhos buscam o silêncio.
Ainda que só encontrem a percussão dos dedos no teclado.
Dedos em busca dos signos, signos, signos...
Meu silêncio é uma habitação de luas e sóis no que não é estático.
Meu silêncio é o movimento milenar das estrelas.
Por isso me revelo ainda com o corpo coberto de algodão colorido,
como nos tempos de peregrinação pelos desertos e pelos mares...
até encontrar o rio sanhauá e o rio jaguarão,
numa pororoca existencial,
dizendo que uma parte de mim é quase tudo
e a outra parte é o que jorra do mundo...

domingo, 18 de maio de 2008

São tantas "reticências" ...


As reticências são os três primeiros passos do pensamento
que continua por conta própria o seu caminho...
Mário Quintana
Reticências não.
Frase que é frase termina com um ponto.
No máximo...
Alice Ruiz

sábado, 17 de maio de 2008

Esta ..... mira



substantivo feminino
1 ato ou efeito de mirar
2 habilidade em acertar um alvo; pontaria
3 aquilo que se pretende alcançar; meta, objetivo, fim
4 aquilo que se pretende fazer; intenção, desígnio, propósito

verbo
1 fixar (os olhos) em; fitar, olhar
2 dirigir (os olhos) para (algo ou alguém); olhar
3 olhar longamente à distância; observar, espreitar
4 olhar ou contemplar (a própria imagem refletida)
5 refletir-se, espelhar-se, reproduzir-se
6 fazer pontaria para (um alvo); apontar, assestar
7 estar voltado para; dar, olhar
8 ter em vista, aspirar a; visar, pretender, desejar


Al Otro Lado del Rio


Al Otro Lado del Río

Jorge Drexler

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
El día le irá pudiendo poco a poco al frío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema
Rema, rema, rema
En esta orilla del mundo lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Yo muy serio voy remando muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema
Rema, rema, rema
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Reflexões para 15 de maio...


O tempo sujo
Alexandre O’Neill
Há dias que eu odeio
Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção
São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam, que nos lançam
As pedras do medo, os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação
Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho
O sono centenário
Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
Se esconde e assobia
Dias que passei no esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar
Que o sol não se ponha mais amanhã
Nem jamais se oculte na noite da indiferença

Alexandre Manuel Vahia de Castro O’Neill de Bulhões (1924-1986), poeta português que combateu o fascismo salazarista com humor negro, irreverência e poemas e acima de tudo, venceu.

Mantendo as RETICÊNCIAS...

Reticencias
Mariza Fontes de Almeida

Às vezes eu imagino que tenho alguém
perto de mim...
Alguém que eu amo
e que me quer também;
que olha nos meus olhos,
que pega no meu rosto,
alguém que sabe o gosto que o meu coração tem...
Sabe, de vez em quando
a minha imaginação
trabalha tanto,
que chego a ver você!
Chego a sentir sua mão!
Vê?...
Parece que você está aqui agora,no entanto...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

continuando as reticências...


Vivência

Flora Figueiredo

Se sua rua porventura aparecer

coberta de pétalas caídas

pela inclemênciade um vento qualquer,

não faça nada.

Deixe-a assim desordenada

e descabida.

São reticências que sobraram da estação passada.

Acabarão varridas pela própria vida.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Divagações de Segunda-Feira


Adoro reticências!
Aqueles três pontos intermitentes
que insistem em dizer que nada está fechado,
que nada acabou,
que algo sempre está por vir!...
A vida se faz assim!
Nada pronto, nada definido.
Tudo sempre em construção.
Tudo ainda por se dizer...
Nascendo...
Brotando...
Sublimando...
Vivo assim...
Numa eterna reticência...
Para que colocar ponto final?
(Maria Regina)


boca boca
sem mira
atiro em mim mesmo
às vezes-saio lanhado e disforme
e novamente me transformo:
assumo a interina forma
no mais
sou o verso que voa
no espetáculo sem bis
do instante
(Lau Siqueira)
(Re)Fazer
Roubaram meu silêncio
Alteraram minha alquimia
Tatuaram meu pensamento
Ritmaram os meus dias
Poetizaram minhas palavras
Pariram minha nostalgia

Fizeram eu me re-descobrir
E me deixaram.

Agora estou com esta pessoa estranha ao meu lado
Todo dia tenho que controlá-la
Todo dia tenho que enfrentar suas impulsividades,
Seus desejos
Todo dia tenho que forçar que ela se concentre
Se silencie
Se apazigue
Se re(faça)
(Vani Alizo )

domingo, 11 de maio de 2008

Dia das Mães


VIAGEM

VIAGEM
Não é preciso morar na esquina
Nem ser jovem ou belo:
O amor melhor é sempre dentro e perto.
Chega inesperado,
Vem forte vem doce, acalma e desatina.
Se está na minha rua ou vem de fora,
Ele ignora o tempo e a idade:
O amor é sempre agora.
É vento sutil e mar sem beira:
O amor é destino de quem está perto,
E dói sem remissão quando negado.
O melhor amor sacia a fome inteira:
Mas tem de ser aceito,
Tem de ser ousado,
Tem de ser navegado.
LYA LUFT

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sonnet To Liberty


Not that I love thy children, whose dull eyes
See nothing save their own unlovely woe,
Whose minds know nothing, nothing care to know,--
But that the roar of thy Democracies,
Thy reigns of Terror, thy great Anarchies,
Mirror my wildest passions like the sea
And give my rage a brother--! Liberty!
For this sake only do thy dissonant cries
Delight my discreet soul, else might all kings
By bloody knout or treacherous cannonades
Rob nations of their rights inviolate
And I remain unmoved--and yet, and yet,
These Christs that die upon the barricades,
God knows it I am with them, in some things.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O sol voltou ... e a noite esta fria, mas linda ...


Via Láctea



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila.

E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora!

"Tresloucado amigo!

Que conversas com elas?

Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas".

(Olavo Bilac)

domingo, 4 de maio de 2008

Anaïs Nin - "Penso que se escreve para um mundo onde se possa viver"

Já faz certo tempo que estou querendo postar algo de Anaïs Nin. Escritora francesa, com uma vida nada tão diferente do cotidiano do século XXI – mas certamente menos hipócrita, mais ousada e verdadeira! Estes indícios podem ser observados pelo teor da carta que Anais Nin escreveu a um editor que comprava os contos eróticos que produzia com Henry Miller. Para compreender o que me refiro é interessante um passeio rápido pela biografia desta escritora:

“A escritora francesa Anaïs Nin nasceu em Neuilly, um subúrbio de Paris, em 1903. Teve uma infância verdadeiramente cosmopolita, passando por várias cidades da Europa. Porém, quando Anaïs tinha onze anos, seu pai - o pianista espanhol Joaquin Nin - abandonou a família e foi para a América. Foi o ponto de partida para que a pequena Anais começasse a escrever seus diários, inicialmente uma longa carta dirigida ao pai. Nesse mesmo ano, sua mãe, a franco-dinamarquesa Rosa Culmell, levou Anaïs e seus outros dois filhos para Nova Iorque.
Autodidata, a escritora passou a infância lendo e mantendo um pequeno jornal, que ela inicialmente escreveu em francês e o qual só começou a redigir em inglês a partir dos seus dezessete anos. Em NY, a escritora estudou arte até que, em 1923, casou-se com HughGuiler. Guiler ilustrou mais tarde os livros da esposa, sob opseudônimo de Ian Hugo. O casal mudou-se para Paris quando Anaïscomeçou a escrever seus livros de ficção, nos anos 30.
Na França, a escritora consolidou-se na profissão a partir dolançamento da obra "D.H. Lawrence: na unprofessional study". Seguiu-sea este uma infinidade de livros, como por exemplo o consagrado "A Casado Incesto" (The House of Incest), um poema em prosa que mostra umasérie de tormentos psicológicos, bem ao gosto da literaturaatormentada de Anaïs.
Toda a sua literatura tem uma forte conotação erótica, mais mostrada explicitamente nos volumes "Delta de Vênus" (disponível em filme) e"Little Birds". Com Hugh Guiler, a escritora viveu um casamento demais de 50 anos. Apesar de feliz, Anaïs manteve uma série deenvolvimentos extraconjugais, com nomes como Henry Miller, Otto Rank,Gore Vidal, Edmund Wilson.
Teve uma vida amorosa cheia de viesses, e foi capaz de manter umsegundo marido, Rupert Cole, por pelo menos 25 anos, constituindo umarelação de bigamia, já que nunca se separou de Hugh Guiler. Os diáriosde Anaïs Nin cobrem o período de 1931 a 1977, e trazem uma visão daescritora como mulher e artista. Mais do que retratos biográficos, osdiários compõem uma verdadeira obra de arte, tamanha a riqueza dedetalhes e a maneira como a escritora pensou em construir seusescritos.
Anaïs voltou à Nova Iorque um pouco antes da eclosão da Segunda GrandeGuerra. Começou, então, a dividir sua vida no eixo Nova Iorque-LosAngeles, o que significava, também, estar entre Hugo, seu primeiromarido, e Rupert, o marido/amante. A escritora ficou mais conhecidapelos seus diários, mas não dá para menosprezar a grande quantidade denovelas e poemas em prosa, em estilo surrealista, que produzia semcessar, com grande sensibilidade e percepção. Em 1974, a escritora foieleita para o National Institute of Arts and Letters, nos Eua. Em1977, na cidade de Los Angeles, o câncer colocava fim à sua vida.”
A carta:
Querido Colecionador.
Nós o odiamos! O sexo perde todo o seu poder e seu vigor quando éexplícito, exagerado, quando é uma obsessão mecânica. Transforma-se emtédio. O senhor nos ensinou melhor do que ninguém, o erro de nãomisturar sexo com emoções, apetites,desejos, luxúria, fantasias,caprichos, vínculos pessoais, relações profundas que mudam sua cor,sabor, ritmo, intensidade.
Não sabe o que está perdendo com sua observação microscópica da atividade sexual, excluindo os aspectos que são seu combustível: intelectuais, imaginativos, românticos, emocionais.
Isto é o que dá ao sexo sua surpreendente textura, suas transformações sutis, seus elementos afrodisíacos. O senhor reduz seu mundo de sensações, o faz murchar, mata-o de fome, dessangra-o.
Se nutrisse sua vida sexual com toda a excitação que o amor injeta na sua sensualidade, seria o homem mais potente do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, a paixão.
O senhor está vendo sua chaminha extinguir-se asfixiada. A monotonia é fatal para o sexo. Sem sentimentos, inventividade, disposição, não há surpresas na cama.
O sexo deve ser misturado com lágrimas, riso, palavras, promessas,cenas, ciúmes, invejas, todos os componentes do medo, viagens ao exterior, novos rostos, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho.
Sabe quanto o senhor está perdendo por ter esse periscópio na ponta do seu sexo, quando poderia gozar um harém de maravilhas diferentes e novas? Não existem dois cabelos iguais, mas o senhor não nos permite perder palavras na descrição do cabelo; tampouco dois cheiros, mas se nos expandimos o senhor berra: "Deixem a poesia de lado!". Não existem duas peles com a mesma textura e jamais a luz, a temperatura ou assombras são as mesmas, nunca os mesmos gestos, pois um amante quando está excitado pelo amor verdadeiro, pode percorrer a gama de séculos de ciência amorosa.
Que variedade, que mudanças de idade, que variações na maturidade e na inocência na perversão e na arte!...
Temos nos sentado durante horas nos perguntando como é o senhor. Se tem negado ao seus sentidos seda, luz, cor, cheiro, caráter, temperamento, agora deve estar completamente murcho. Há tantos sentidos menores fluindo como afluentes do rio do sexo, nutrindo-o. Só a pulsação unânime do coração e do sexo podem criar o êxtase.

sábado, 3 de maio de 2008

DIVAGAÇÕES

(...) gravei tua voz no meu tímpano
vez em quando labirinto
faço que sinto,
vez em quando minto
vinho tinto,
amor rosé
você
vez em quando instinto (...)
(Martha Medeiros)


Entre notícias antigas e muralhas
construí com você
um amor feito alucinadamente de palavras
Meus versos seduzem os seus
seus versos aliciam os meus
Coloquei nossos livros juntos na estante
para que se toquem
e se amem clandestinamente
durante as madrugadas
(Iracema Macedo)
O que desejo dizer
não cabe numa folha de papel[...]
e é quadro que se esparrama
muito além da moldura
(Adelaide Amorim)
[...]doce
a tua lembrança,
que volta
e envolve feito abraço
nunca esquecido
amargo
aquele que não se rende
à saudade
e deixa fechadas
as janelas da memória
(Ademir Antonio Bacca)
"...Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo,
depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração..."
(Mafalda Veiga)
"(...) metade do que vivo é imaginação.
A outra metade é conseqüência".
(F. Carpinejar)

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Para acalentar estes dias chuvosos e cinzentos...

Dia Branco
Composição: Geraldo Azevedo/ Renato Rocha
Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Um pedaço de qualquer lugar...
E nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Meu amor...
Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

A previsão é de muita chuva para os próximos dias...


Chove. Que fiz eu da vida ?
Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!
Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...
Quem eu pudera ter sido,
Que é dele?
Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!
(Fernando Pessoa)




quinta-feira, 1 de maio de 2008

Álvares de Azevedo


Porque gosto de Álvares de Azevedo?
Porque seus poemas são paradoxais!
Ora sombrios e cinzentos, ora irônicos e com humor; ora a mulher amada e bondosa, ora a ordinária e a vadia; ora descreve e enaltece, ora narra e sataniza.
LEMBRANÇA DE MORRER
(Álvares de Azevedo)
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas.
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai e de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos - e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei.
que nunca aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores.
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo.
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.