sexta-feira, 31 de janeiro de 2020



É UM APRENDIZADO ... ACEITAR AS PERDAS...

"Eu não estou sofrendo, eu estou lutando... Lutando para fazer parte das coisas, para estar conectada a quem eu fui um dia." (...) “Tanta coisa parece preenchida pela intenção de ser perdida, que sua perda não é nenhum desastre.” 
Num dos momentos mais emocionantes em Still Alice (Para Sempre Alice)*, a protagonista, Dra. Alice Howland, interpretada pela atriz Julianne Moore, faz um discurso contando que está com Alzheimer e cita o poema A Arte de Perde de Elizabeth Bishop.

“ A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério.”

domingo, 26 de janeiro de 2020

Um dia…Pronto!…Me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer: Que me importa?
O diabo é deixar de viver.
(Mário Quintana)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020




UMA MENINA

Uma menina
de cabelo vermelho
perdeu olhos
sonhos
espelhos
perdeu o desejo de ser boa, má
perdeu rio
lama
mar
perdeu a dor antiga
a quase alegria
perdeu a flor que escondia no sexo
a lembrança do primeiro beijo
o desamparo do último gozo
perdeu vidrinhos de geleia
meias
bilhetes
adesivos
relógios
asas
pai
mãe
filhos
véus
dentes
pinças
pincéis
meias
pentes
postais
tesouras
livros
lápis
entranhas
sangue
peso
cabelos
canetas
chapéus

Uma menina
de cabelo vermelho
(ou seria negro
amarelo
azul
marrom?)
morreu/nasceu
assim:
perdendo
(Marize Castro)

domingo, 19 de janeiro de 2020

Silenciosa

Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...

Essa lembrança...mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós,
só possa mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida que nem se possa saber mais de quem!

(Mário Quintana)

sábado, 18 de janeiro de 2020



A maior dor do vento é não ser colorido.


(Mário Quintana)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos.
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas...e que estão escritas
do lado de fora do papel...
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

Mario Quintana

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020


Rosa Luxemburgo, a mulher que sonhava a revolução: 
"A liberdade é sempre a liberdade para o que pensa diferente"

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

... guardo o resto para

O pensamento é triste; o amor insuficiente;

e eu quero sempre mais do quem nos milagres.

Deixo que a terra me sustente:

guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo- e eu sei que me conhece.

A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.

A estrela sobe, a estrela desce...

- espero a minha própria vinda.


( navego pela memórias

em margens.

alguém conta a minha história

e alguém mata os personagens. )

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

RECEITUÁRIO

Dispense os chás de ervas,
os calmantes,
as receitas de lorotas em conserva,
alucinógenos,
bebidas inebriantes,
álcool em excesso,
glicógenos,
os moderadores, os estimulantes,
as bulas de remédios limitantes,
as lições de poder sob medida.
Liberte o coração e beba a vida.

(Flora Figueiredo)

domingo, 12 de janeiro de 2020


Uma arte

Elizabeth Bishop

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020




Uma Faca só Lâmina

Assim como uma bala
enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala
do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado;
qual bala que tivesse um
vivo mecanismo,
bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse
o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada;
assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte
de vossa anatomia;
qual uma faca íntima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto
de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso
de homem que se ferisse
contra seus próprios ossos.
(João Cabral de Melo Neto)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020




Quando janeiro vier, de tão azul, o céu parecerá pintado.
(CFA)