domingo, 31 de maio de 2009

É preciso deixar de seguir rotinas, convenções, pactos , cartilhas & etc


É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

Carlos Drummond de Andrade, in Poema da necessidade

sábado, 30 de maio de 2009

Porque hoje é sábado...


(...)

Há uma infeliz que vai de tonta

Porque hoje é sábado

Há a sensação angustiante

Porque hoje é sábado

Há uma comemoração fantástica

Porque hoje é sábado

Há a perspectiva do domingo

Porque hoje é sábado

(...)

Palavras...


Já que se há de escrever,
que pelo menos não se esmaguem com palavras
as entrelinhas.
(Clarice Lispector)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Preciso voltar a tapar o nariz e a boca ...



Resistência à frustração



Quando eu era pequena, fazia uma brincadeira na piscina que até hoje as crianças fazem: tapar o nariz e a boca e ficar embaixo d'água, contando os segundos pra ver quem consegue ficar mais tempo sem respirar. É bem verdade que a gente não precisa de uma piscina pra fazer este teste, pode fazer neste mesmo instante aonde quer que esteja, mas éramos crianças, éramos imaginativos, éramos mergulhadores em alto-mar.

Testar nossa resistência é uma maneira de avaliar o quanto estamos preparados para as adversidades. Serão poucas as vezes na vida que teremos que passar um tempo sem respirar, oxalá nenhuma. Mas serão muitas as vezes em que teremos que testar nossa resistência à frustração.

Um...dois...três...quatro.... serão mais do que segundos, mais do que minutos ou horas trancando a respiração, lutando para não explodir. Algumas frustrações levam dias ou meses para serem elaboradas dentro da gente. As coisas quase nunca saem como a gente planejou, há sempre o elemento surpresa, que desencaminha nossos sonhos. É preciso ter muito pulmão para respirar fundo e muita cabeça fria para não botar tudo a perder.

A gente manda um e-mail amoroso e extenso e recebe uma resposta fria e lacônica. A gente organiza uma festa na nossa casa e só aparecem três gatos pingados. A gente combina de ir para a praia no feriadão e pinta, de última hora, um plantão no trabalho. A gente economiza anos para comprar um carro e quando está com o dinheiro na mão, tem que emprestá-lo p ara alguém que ficou repentinamente doente na família. E as frustrações de amor? Uma atrás da outra. Parece que ninguém reage como a gente espera. Todos uns desmancha-prazeres.

Os que não têm muita resistência saem atropelando, cortando relações, dramatizando o que nem é tão dramático assim. Depois mergulham em longas depressões e custam a voltar à tona. Já os mais resistentes sabem que nada é tão sério nesta vida, a não ser ela própria, a vida, e tratam de aproveitá-la com mais serenidade e paciência. Contam até três, até dez, até vinte, e basta de autoflagelação: voltam a respirar.

(Martha Medeiros)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Silêncio e Solidão




Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas,
e foram sempre positivas para mim: Silêncio e Solidão.
Essa foi sempre a área de minha vida.
Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos,
onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar.
Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidadese seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Palavras ditas...


E diz-me a desconhecida:

“Mais depressa! Mais depressa!
Que eu vou te levar a vida!…
Finaliza! Recomeça!
Transpõe glórias e pecados!…”

Eu não sei que voz seja essa
Nos meus ouvidos magoados:
Mas guardo a angústia e a certeza
De ter os dias contados…

Rolo, assim, na correnteza
Da sorte que se acelera,
Entre margens de tristeza,
Sem palácios de quimera,
Sem paisagens de ventura,
Sem nada de primavera…

Lá vou, pela noite escura,
Pela noite de segredo,
Como um rio de loucura…
Tudo em volta sente medo…

E eu passo desiludida,
Porque sei que morro cedo…
Lá me vou, sem despedida…
Às vezes, quem vai, regressa…

E diz-me a Desconhecida:

“Mais depressa! Mais depressa!…”
(Cecília Meireles)

domingo, 24 de maio de 2009

Eu queria conhecer o mar...


Assim como se desencadeiam o frio,
a chuva '
e o barro das ruas, '
quer dizer,
o insolente e arrasador inverno do sul da América,
o verão também chegava a estas regiões,
amarelo e abrasador.
Estávamos rodeados de montanhas virgens,
porém eu queria conhecer o mar.
Pablo Neruda

sábado, 23 de maio de 2009

Amanhecendo mais um sábado. Que ele venha com ternura...


Quem me compra um jardim
com flores?
borboletas de muitas
cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis
nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro
e a hera,
Uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua
canção?
E o grilinho dentro
do chão?
(Este é o meu leilão!)
(Cecília Meireles)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pura verdade...



Há noites que eu não posso dormir
de remorso por tudo o que eu
deixei de cometer
(Mário Quintana)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

QUASE


Um pouco mais de sol — eu era brasa.
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz?
Em vão...
Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d'espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho — ó dor! — quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama... E
ntanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo...
e tudo errou...
— Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... —
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Mário de Sá-Carneiro

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ontem - idas e vindas, alegrias e tristezas


ONTEM

Ontem passou o passado lentamente
com sua vacilação definitiva
sabendo-te infeliz à deriva
com tuas dúvidas estampadas na testa.
Ontem passou o passado pela ponte
e levou tua liberdade prisioneira
trocando seu silêncio em carne viva
por teus leves alarmes de inocente.
Ontem passou o passado com sua história
e sua desfiada incerteza
com sua pegada de espanto
e de reprovação.
Foi fazendo da dor um [...]
(Mario Benedetti)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Um adeus entre parênteses

A vida esse parêntese
Quando o não-ser fica em suspense
abre-se a vida
esse parêntese
com um gemido universal de fome
somos famintos desde o vamos
e o seremos até o vamo-nos
depois de muito descobrir
e brevemente amar e acostumar-nos
à falida eternidade
a vida se encerra em vida
a vida esse parêntese
também se fecha
incorre
em um gemido universal
o último
e então somente então
o não-ser segue para sempre
(Mario Benedetti)

Ficarei sonhando versos itálicos


A FRESCURA

Ah a frescura na face de não cumprir um dever!

Faltar é positivamente estar no campo!

Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!

Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,

Faltei a todos,

com uma deliberação do desleixo,

Fiquei esperando a vontade de ir para lá,

que'eu saberia que não vinha.

Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.

Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.

E tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos

onde estaria à mesma hora,

Deliberadamente à mesma hora...

Está bem,

ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.

É tão engraçada esta parte assistente da vida!

Até não consigo acender o cigarro seguinte...

Se é um gesto,

Fique com os outros,

que me esperam,

no desencontro que é a vida.

(Álvaro de Campos)




segunda-feira, 18 de maio de 2009

Contradições











Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar.
Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente.
O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar.
Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.

(Clarice Lispector)

domingo, 17 de maio de 2009

Revelendo segredos


"Bom para a conversa e para a solidão,
o chimarrão é um jogo de empatia e intimidade
entre (quase) todos gaúchos."

(Fabrício Carpinejar)

sábado, 16 de maio de 2009

Passagens despercebidas


SEDUÇÃO

A vida mostrou seu decote profundo,
na esperança vã de seduzir o mundo.
Passou despercebida.
Por mais que ela insista,
não se lhe oferece chance de conquista.
Mas vale a tentativa:
só quando a vida ousa,
permanece viva.

(Flora Figueiredo)

Retirada


Respeite o silêncio
a omissão,
a ausência.
É meu movimento de deserção.
Abandonei o posto,
rompi a corda,
desacreditei de tudo.
Cansei de esperar
que finalmente um dia,
minha fotografia
fizesse jus ao seu criado-mudo.
(Flora Figueredo)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

15 de Maio - comemorar?

Sem ver o tempo

Não há pior cegueira que a de não ver o tempo.
E nós já não temos lembranças
e
não daquilo que os outros nos fazem recordar.
Quem hoje passeia a nossa memória pela mão
são exatamente aqueles que, ontem,
nos conduziram à cegueira.

Mia Couto

quinta-feira, 14 de maio de 2009

... hoje, relendo ...




Com que vigor da minha alma sozinha

fiz página sobre página reclusa,

vivendo sílaba a sílaba a magia falsa,

não do que escrevo

mas do que supunha que escrevia!

Com que encantamento de bruxedo

irónico me julguei poeta da minha prosa,

no momento alado em que ele nascia,

mais rápida do que os movimentos da pena,

como um desforço falaz nos insultos da vida!

E afinal, hoje, relendo,

vejo rebentar meus bonecos,

sair-lhes a palha pelos rasgos,

despejarem-se sem sentido…

(Fernando Pessoa)

Para que servem os caminhos?


Enquanto a gente sonhar
a estrada permanecerá viva.
É para isso que servem os caminhos,
para nos fazerem parentes do futuro.
(Mia Couto)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A vida escorre ... crua e líquida


A vida é crua.
Faminta como um bico de corvos.
E pode ser tão generosa e mítica:
arroio,
lágrima,
olho-d’agua,
bebida.
A vida é líquida.

(Hilda Hilst)

terça-feira, 12 de maio de 2009

Cai a noite ...


Hoje estou muito delicada,
me interessam principalmente
flores e passarinhos.

( Clarice Lispector )

Superficialidades e Enganos: as imposturas da vida cotidiana




Não se deixe enganar pelo que é superficial;
nas profundezas tudo se torna lei.
Os que vivem mal e de modo falso o segredo (e são muitos)
o perdem só para si mesmos,
e no entanto o transmitem
como uma carta fechada,
sem saber.

(Rainer Maria Rilke)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Segunda-Feira de chuva


(...)
O que eu queria era alguém
que me recolhesse como um menino desorientado
numa noite de tempestade,
me colocasse numa cama quente e fofa,
me desse um chá de laranjeira e me contasse uma estória.
(...)
Caio Fernando Abreu

domingo, 10 de maio de 2009

MAIS UM DOMINGO

No vértice dos montes
as nuvens se enovelam
como um púbis,
Uma neblina esparsa
antecede as encostas
borra os traços
e talvez seja chuva,
Na estrada que não vejo
o alto-falante tenta vender coisas
que não quero comprar
e súbitos foguetes me anunciam
que em algum jogo
alguém venceu
alguém saiu perdendo,

Mais um domingo se gasta
no silencioso vôo de mil insetos e
nas flores que poupam seu miolo enquanto
as pétalas começa a murchar.
(Marina Colasanti)

sábado, 9 de maio de 2009

Poesia para um final de mais um sábado



COM SABOR A MAR

Toda a noite eu passei

no colo do passado, que

passo à frente

passo atrás

entre os braços me ninava.

Nem era sono

nem era vigília

era como se em água eu chapinhasse

ora funda

ora rasa

e era morna

e com sabor a mar,

água que lambia minha boca

e cicatrizava feridas.

(Marina Colasanti)

*** Lindo livro de poesia de Marina Colasanti -"Passageira em trânsito"

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Os lutos diários...



(...)
um barco sem porto
sem rumo
sem vela
cavalo sem sela
um bicho solto
um cão sem dono
um menino
um bandido
às vezes me preservo
noutras suicido.

(Zeca Baleiro)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O tempo me ensinou que os peixes devem ser livres para nadar...



(...) E eis então que caminho para rua, chamo um táxi, entro nele. Eis aí que olho pela janela, vejo o parque, o banco, as pipocas que não comprei. Eis assim que encosto a cabeça no banco, apanho um cigarro e trago longamente. Eis depois que solto a fumaça de um jeito que não sei se é sopro ou suspiro. Eis.

(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quantas vezes...

(...) Quantas vezes, sob o peso de um tédio que parece ser loucura, ou de uma angústia que parece passar além dela, paro, hesitante, antes que me revolte, hesito, parando, antes que me divinize. Dor de não saber o que é o mistério do mundo, dor de nos não amarem, dor de serem injustos conosco, dor de pesar a vida sobre nós, sufocando e prendendo, dor de dentes, dor de sapatos apertados – quem pode dizer qual é a maior em si mesmo, quanto mais nos outros, ou na generalidade dos que existem? (...) Escrevo isto sob a opressão de um tédio que parece não caber em mim, ou precisar de mais que da minha alma para ter onde estar; de uma opressão de todos e de tudo que me estrangula e desvaira; de um sentimento físico da incompreensão alheia que me perturba e esmaga. Mas ergo a cabeça para o céu azul alheio, exponho a face ao vento inconscientemente fresco, baixo as pálpebras depois de ter visto, esqueço a face depois de ter sentido. Não fico melhor, mas fico diferente. Ver-me liberta-me de mim. Quase sorrio, não porque me compreenda, mas porque, tendo-me tornado outro, me deixei de poder compreender. No alto do céu, como um nada visível, uma nuvem pequeníssima é um esquecimento branco do universo inteiro.

Fernando Pessoa sob pseudônimo de Bernardo Soares.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para este dia...

"Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas
Quero ser o cristalino fio d’água
Que canta e murmura na mata silenciosa."

(Helena Kolody)

domingo, 3 de maio de 2009

Guardam-me náufragos...


Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Nâo há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Comprendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darâo ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memôria,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coraçâo mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordaçôes,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim `~ao me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim...
(Fernando Pessoa)

O que une os homens e mulheres


Há duas forças que unem os homens: medo e interesse.

(Napoleão Bonaparte)

Agarre o vento...


Daqui a alguns anos estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez.
Solte as amarras!
Afaste-se do porto seguro!
Agarre o vento em suas velas!
Explore! Sonhe! Descubra!

(Mark Twain)






















sexta-feira, 1 de maio de 2009

É como se a gente pressentisse...


Tantas dores novas
e tão inesperadas,
tivesse visto de lá,
naquele tempo,
com aqueles olhos que nunca mais teria.
Caio Fernando de Abreu

Se puderes...


Recomeça...
Se puderes,
sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro,
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
e vendo,
acordado,
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga