terça-feira, 30 de junho de 2009

Noite cheirando a querência...


saudades do frio...
do canto do quero-quero...
do cheiro de mato molhado...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amigos ...




Quero ser teu amigo, nem demais e nem de menos...
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te como próximo, sem medida...
E ficar sempre em tua vida
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade,
Sem jamais te sufocar,
Sem forçar tua vontade.
Sem falar quando for a hora de calar
E sem calar quando for a hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais...
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo,
Mas confesso:
É tão difícil aprender...
Por isso, eu te peço paciência.
Vou encher este teu rosto
De alegrias, lembranças...
Dê-me tempo
De acertar nossas distâncias!

(Fernando Pessoa)

Nosso modo de ser - "conta" a nossa história ...



Então desisti novamente de contar as coisas.
Não é preciso contar,
porque a verdade do que se conta
está no modo como se é.
(Bernhard Schlink)

domingo, 28 de junho de 2009

A dialética necessária da vida ...


... saber a hora da partida
(...)
O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.
(Clarice Lispector)

sábado, 27 de junho de 2009

... guardo o resto para mais tarde...

O pensamento é triste; o amor insuficiente;
e eu quero sempre mais do quem nos milagres.
Deixo que a terra me sustente:
guardo o resto para mais tarde.
Deus não fala comigo- e eu sei que me conhece.
A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.
A estrela sobe, a estrela desce...
- espero a minha própria vinda.
( navego pela memórias
em margens.
alguém conta a minha história
e alguém mata os personagens. )
(Cecília Meireles)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Saudades

Amigo é coisa para se guardar
no lado esquerdo do peito
mesmo que o tempo
e a distância
digam não...

(Milton Nascimento)

Sabedoria de Quintana

"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso."
(Mário Quintana)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

São João


Noite de São João
Para além do muro do meu quintal
Do lado de cá, eu
Sem noite de São João
Porque há São João
Onde o festejam
Para mim há uma sombra de luz
De fogueiras na noite
Um ruído de gargalhadas
Os baques dos saltos
E um grito casual
De quem não sabe que eu
De quem não sabe que eu existo

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Manhã de segunda-feira



O sol tem cheiro de tangerina no inverno.
Vivo descascando as mãos.
(Fabrício Carpinejar)

domingo, 21 de junho de 2009

... início de mais um inverno...


Aquela senhora tem um piano
Que é agradável mas não é o correr dos rios...
Nem o murmúrio que as árvores fazem…

Para que é preciso ter um piano?
O melhor é ter ouvidos
E amar a natureza.

(Alberto Caeiro)

sábado, 20 de junho de 2009

Existências


Seja como for, eu vou,
pois quase sempre acredito:
ando de olhos fechados
feito criança brincando de cega.
Mais de uma vez saio ferida
ou quase afogada...
A dor eventual é o preço da vida:
passagem, seguro e pedágio.

( Lya Luft)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sim, eu sei ...



Sim, sei bem que nunca serei alguém
Sei de sobra que nunca terei uma obra
Sei, enfim, que nunca saberei de mim
Sim, mas agora, enquanto dura esta hora
Este luar, estes ramos
Esta paz em que estamos
Deixe-me crer o que nunca poderei ser.

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aprendizados em convulsões


O coração tem bordas estreitas
E, feito o mar, se mensura
Por um poderoso baixo contínuo
E monotonia azul
Até que um furacão o seccione
E, enquanto descobre
Seu insuficiente espaço,
Aprende em convulsões
Que a calmaria é tão-só muralha
De intocada gaze:
A pressão de um instante a destrói,
Um questionamento a esgarça.
(Emily Dickinson)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Silêncio dos anjos, dos seres marinhos, dos que sonham ...


... ah essa coisa sagrada, o silêncio.
Onde habitam os anjos.
No mais perfeito e absoluto silêncio...

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Tente...





Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto,

uma árvore,

um pássaro,

um rio,

uma nuvem.

Pelo menos sorria, procure sentir amor.

Imagine.

Invente.

Sonhe.

Voe.

Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores.

Eu não estou fazendo nada de errado.

Só estou tentando deixar as coisas um pouco mais bonitas.

(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vontade...


Vontade preguiçosa de apanhar meus nervos e fazer uma rede para me deitar...
e fechar os meus olhos, como que cansado de olhar. . .
e dormir, mas dormir esse sono das pedras que não podem sonhar...
ser folha, folha morta, amarela, caindo embalada pelo ar...
barco solto, sem leme, sem velas, sem nada ao sabor inconstante do mar a boiar...
Vontade preguiçosa de encostar a vida num canto, para descansar...
E soltar-me em mim mesmo, e soltar-me, e cair e deixar-me ficar,
sem ter vontade ao menos para bocejar...
Ah!...Vontade preguiçosa de não terminar estes versos morrendo em ar... em ar... em ar...
(Poema de JG de Araújo Jorge)

domingo, 14 de junho de 2009

O dia dura menos que um dia...



O dia dura menos que um dia.

O corpo ainda não parou de brincar

E já estão chamando da janela:

É tarde.
Ouço sempre este som: é tarde, tarde.

A noite chega de manhã?

Só existe a noite e seu sereno?
O mundo não é mais, depois das cinco?

É tarde.

A sombra me proíbe.

Amanhã, mesma coisa.

Sempre tarde antes de ser tarde.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 13 de junho de 2009

Um delicado poema de amor...


Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros.
Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho secreto.
(Pablo Neruda)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Formas raras, secretas, duras ...



"Saber que há tudo.

E mover-se em

meio a milhões e milhões de formas

raras, secretas, duras.

Eís ai meu canto"


(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Traze-me


Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura
dos luares que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!
(Cecília Meireles)

quarta-feira, 10 de junho de 2009


Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas…
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam
as frutas continuarão a ser doces e boas.

terça-feira, 9 de junho de 2009

a dor que dói


não é mentira
é outra
a dor que dói
em mim
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro
do objeto
em foco
a intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outra
a dor que dói.

(Ana Cristina César)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Névoas e tristezas



Desce a névoa da montanha,

Desce ou nasce ou não sei que...

Minha alma é a tudo estranha,

Quando vê, vê que não vê.

Mais vale a névoa que a vida...

Desce, ou sobe: enfim, existe.

E eu não sei em que consiste

Ter a emoção por vivida,

E, sem querer, estou triste.


(Fernando Pessoa)

domingo, 7 de junho de 2009

Cogito que sou ...





eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado
indecente
feito um pedaço de mim
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim
(...) e por ser assim,
devo pedir desculpas
se ocupei indevidamente
- espaço e tempo -
mania de acrededitar em felicidade...

sábado, 6 de junho de 2009

mais nada ...


"Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada"
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Como as ondas do mar


Agora vou embrulhar minha angústia dentro do meu lenço.
Vou amassá-la numa bola apertada.
Vou levar minha angústia e depositá-la nas raízes sob as faias.
Vou examiná-la, pegá-la entre meus dedos.
Não me encontrarão.
Morrerei lá.
(Virginia Woolf)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

VIVÊNCIAS

Se sua rua porventura
aparecer coberta de pé้talas caídas
pela inclemência de um vento qualquer,
Não faça nada.
Deixe-a assim,
desordenada e descabida.
São reticências que sobraram
da estação passada.
Acabarão varridas pela propria vida.
(Flora Figueiredo)

uma palavra sozinha...

CANÇÃO DE VIDRO

E nada vibrou...
Não se ouviu nada...
Nada...
Mas o cristal nunca mais deu o mesmo som.
Cala, amigo...
Cuidado, amiga...
Uma palavra só
Pode tudo perder para sempre...
E é tão puro o silêncio agora!

(Mário Quintana)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ordem do dia



Eu abro a janela,
você acende o céu,
o gato toca o guizo.
Se for preciso,
a gente chama a banda,
cobre de lírios o espaço da varanda,
dá um brilho na pátina da areia.
Risca-se o poente com giz colorido
que faça sentido com a pele do mar.
E se, ao final da linha,
o rádio anunciar que tudo deu errado:
a idéia faliu,
a alegria dormiu,
o projeto quedou-se malfadado;
negou-se o teorema,
falhou o sistema,
perdeu-se a teoria,
então, abriremos por fim a nossa caixa,
onde se conservam bem guardados
o sonho, o veludo e a fantasia.

(Flora Figueiredo)



segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ou seja, se ...

... não diferencio os cogumelos
venenosos dos sadios,
os inços das ervas curativas.
como descobrir
o que mata
sem morrer um pouco por vez?
(Fabrício Carpinejar)