domingo, 29 de junho de 2008

A vida deve ser vivida


Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido

até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Não é nada fácil as despedidas ...










Encontros e Despedidas

(Milton Nascimento e Fernando Brant)


Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero


Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

dia após dia ...

O mapeamento dos dias

1. mais um diapara afligiras coisas do cotidiano
colocar em ordem
sentimentos inúteis
rostos medíocres
que apavoram o sono
2. mais um dia
de aflição
diante de situações
insuportáveis
de conselhos dispensáveis
de reclamações ridículasde detalhes insuperáveis.

3. mais um dia sufocante
diante da mesma
platéia que não sabe
em uníssono
o sentido das coisas
que adormece
diante de cada fala

4. mais um dia
enfadonho
que aperta a garganta
e mostra como é inútil
a vida
que desaba como um
fardo sobre a mesa de trabalho

5. mais um dia que pode ser
cinza ou branco
sem cor até
um pedaço de céu
pela janela
ínfimo
trisco de céu

6. mais um dia
perdido
como o pássaro
em zigue-zague
em direção ao vidro
translúcido

7. mais um dia
(como é difícil)
mais um dia
de palavras vazias
faladas aos borbotões
intensamente
para causar otites
no ouvido

8. mais um dia
de silêncios e solidões
de frases recorrentes
no poema
de saudades e
sentimentos
obstinados
que ferem os sonhos
dilaceram
mais um dia
(Karen Debértolis)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

IMPOSSIBILIDADES

(...)
Minha memória não é a de um caderno-espiral, para distribuir e censurar as confissões, mentir sua extensão e abreviar o conteúdo. É de um caderno capa dura. Não consigo apagar uma lembrança, mesmo que seja dolorida ou humilhante ou os dois. Muito menos alterar seu número de páginas conforme as necessidades da relação. Não sou de riscar o que aconteceu para parecer mais maduro, ou eliminar as contradições e simular coerência. Inclino-me a conviver com as rasuras e insatisfações. O branco do corretivo sempre me irritou mais do que a mancha violeta. Alterar é disfarçar a carência. Alterar é fingir o que não foi vivido, antecipar o que não era hora. Falsificar-se compulsivamente.
Não irei me vingar com as cinzas, arrancar as folhas que não combinam comigo, ou que me provocaram decepções. Não serei visto queimando fotografias, cartas e paixões numa lata de lixo, apenas porque não me servem mais. O que namorei vai me enamorar a vida inteira. Estará lá numa página definida, permanente, com a letra segurando as linhas. Todos os meus erros são esperançosos pela releitura.

(Fabrício Carpinejar)

terça-feira, 24 de junho de 2008

A espera ...

"Recomeça... se puderes,
sem angústia e sem pressa
e os passos que deres,
nesse caminho duro do futuro,
dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade."

(Miguel Torga)

Outra Rua ... novas trajetórias...


Nesta Rua

Se esta rua se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar
Nesta rua, nesta rua, tem um bosque
Que se chama, que se chama, Solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei seu coração
É porque tu roubastes o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque eu te quero tanto bem.

domingo, 22 de junho de 2008

Recomeçar


Bendito quem inventou o belo truque do calendário,
pois o bom da segunda-feira,
do dia 1º do mês
e de cada ano novo
é que nos dão a impressão
de que a vida não continua,
mas apenas recomeça...
(Mário Quintana)
(...)sei da solidão de domingos e das segundas... do aperto das ausências... mas sei também que a história de cumplicidades e afetos está registrada em cada linha cruzada da minha mão.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Tem gente que veio pra ficar ...

Há pessoas que nos falam e nem as escutamos,
há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam
mas há pessoas que simplesmente
aparecem em nossas vidas e
nos marcam para sempre.
(Cecília Meireles)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Aprendendo novas culturas




Festa de São João

(Cazuza)

A noite é meu pé de vento

Prática da solidão

A rua é fria e serena

Seus faróis ao relento

Estrelas de mercúrio e prata

Um índio sem tribo vagava

Em pleno coração da mata

Brilha nas poças de água

O fogo que a chuva apagou

A noite é tão linda

A vida é tão bela

São João, acende a fogueira

Do meu coração

Para refletir!!!!


UMA OUTRA SOCIABILIDADE

José Arthur Giannotti

Costumo andar numa praça que, por ser plana, convém a caminhadas de cardíacos. Noutro dia, perto de uma prancha para exercícios abdominais, testemunho de minha inapetência por movimentos violentos, uma jovem senhora perguntou-me se iria usar o dito aparelho. Depois de minha negativa, elegantemente se deita nela para ler seu livro. Não cabe dizer que seu comportamento não seja social, que levou em conta seus próprios interesses, mas também seria inapropriado qualificá-lo de legítimo ou legal. Que tipo de sociabilidade representa? Para ela, o outro lhe importa somente enquanto estiver no âmbito de sua ação direta, acessível a relações face a face. Não creio que lhe passasse pela cabeça estar prejudicando alguém, aquela pessoa que desejasse fazer ginástica e se visse impedida de usar um aparelho público, que não possuía a devida a coragem de lhe pedir delicadamente que fosse ler em lugar mais adequado. Não abria mão, contudo, de decidir sobre a aplicação das regras de boa convivência. Ao passear pela praça, as aceitava tacitamente sem que, por isso, as seguisse como se desejasse a regra pela regra, instituída em nome da necessidade de preservar o espaço público. Agiu tendo em vista o bem das pessoas com as quais pudesse negociar o sentido social de seu comportamento.

Válido para todos

Nãodúvida de que, quando se segue uma norma social, como nos lembra bem Aristóteles, algum tipo de ser humano aparece no horizonte, pois não se pode dizer que essa norma venha a ser boa ou má, a não ser estipulando para quem ela vale. Mas a jovem senhora reduziu esse universo àqueles com os quais poderia negociar se era o caso ou não de aplicar a regra. Ora, quem freqüenta uma praça pública não está pressupondo que as normas ali vigentes tenham validade apenas para aqueles com quem possa entrar em acordo. A norma vem a ser social na medida em que vale para todos os membros de uma comunidade, de sorte que sua legalidade depende também de um acordo prévio, relativo ao próprio sentido do sistema normativo. Se um banco está na praça é para que todos possam se sentar nele sem pedir permissão a nenhuma outra pessoa. E, se além de sentar, me deito nele é porque, estando a praça vazia, imagino não estar prejudicando a ninguém. Um banco numa praça pública serve para as pessoas se sentarem ou se deitarem, se isso não incomodar seres humanos em geral. Em resumo, na moralidade objetiva as pessoas querem a norma na qualidade de condição de suas existências sociais; se isso não retira delas o direito de avaliar a conveniência de tomar certas liberdades, sentar-se ou deitar-se no banco, não é por isso que lhes é permitido a cada momento avaliar a legalidade, por conseguinte a aplicabilidade, de uma norma pública. Por isso é que o Estado, sendo de Direito, decide em vez dela. Aposto que, se perguntássemos à jovem leitora se acreditava ser válido ler num aparelho público de ginástica, ela nos daria resposta negativa.

Mas não repõe e reafirma a universalidade da norma no plano do próprio comportamento? Não opera como se ela estivesse tão distante que precisava formular seu sentido, passar de um nós abstrato para um nós ao alcance da mão? Noutras palavras, a norma pública continua mantendo sua validade, mas tão-só no nível do discurso, sendo que na prática seu sentido é reformulado de acordo com outras circunstâncias. Note-se que é precisamente essa reformulação que retira a aplicação da norma do espaço determinante tradicional, onde ela é válida ou não válida e nada mais. Desse ponto de vista, qualquer pessoa há de convir que, em praça pública, deitar-se num aparelho de ginástica nem é legal nem legítimo. No entanto, diante da pergunta a respeito de como seu ato se determinaria diante dessa dualidade, é quase certo que a moça responderia que não agiu legalmente, mas em vista de uma legitimidade que, invocada, não se apoiaria numa lei moral universal, mas numa universalização e validação de uma situação particular. Note-se que não reivindicaria para si uma exceção, que vem a ser, nos ensina Kant, fonte de imoralidade. Suponhamos, apenas para fins de argumentação, que as normas sociais advenham de um contrato. Desse ponto de vista, ela não deve se deitar na prancha, mas se sente legitimada a fazer o contrário porque reafirma o contrato no nível dos relacionamentos diretos. Se acreditasse que seu ato fosse exceção, não precisaria negociar com seus vizinhos. Desse modo, aquele contrato mais universal, civil, responsável pela instalação de um poder jurídico, em vez de simplesmente se arvorar em matriz normativa de qualquer sociabilidade, depende agora daquele outro que a pessoa tece no nível de sua própria sociabilidade. Contrato civil e contrato social passam a se determinar reciprocamente, um dependendo do outro para se efetivar.

Universal para um grupo

Esse comportamento de pastorear a aplicação da regra não seria mais freqüente do que aparece? Não é o que ocorre, "mutatis mutandis", no mercado informal de trabalho, no exercício de uma liderança empresarial e até mesmo na pirataria dos produtos culturais? Não domina instituições não-governamentais como o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e o Greenpeace? Tudo indica que essa forma de agir escapa das oposições clássicas entre o legal o ilegal, o público e o privado, introduzindo nessa bipolaridade clássica uma multiplicidade possível de relacionamentos diretos. No fundo, aquilo que seria um contrato originário se efetiva numa negociação particular posta para ser universal para um determinado grupo de pessoas. Quando o empregador e o empregado realizam um contrato informal de trabalho, a despeito de reconhecerem as leis trabalhistas, simplesmente não se vêem como exceção à regra, como se ela não devesse lhes ser aplicada. É por uma necessidade social que agem desse modo, pois, de outro, não poderiam sobreviver socialmente. Por isso seu contrato informal deveria ter validade universal para aqueles que se encontrassem na mesma situação.

Estes não se submeteriam à lei jurídica se não pudessem reformular sua universalidade abstrata na universalidade concreta de seu tecido social. Quando firmam um contrato de trabalho sem o amparo da lei trabalhista, não a renegam, mas, igualmente, não retornam ao nível da insociabilidade completa, da luta de um contra todos ou ainda do trabalho escravo. Note-se que cada um não age como indivíduo qualquer disposto a alienar sua liberdade ou parte dela para continuar convivendo ou sobrevivendo talvez sem medo. Não se determina como ser racional escolhendo a forma de sociedade mais adequada para viver uns com os outros nas circunstâncias mais diversas. Reconhece a validade da norma moral e jurídica, mas a aplica reformulada para que valha num universo particularizado, no contexto de pessoas sempre negociando entre si. Não afirmaria, por exemplo, que a lei diz isso, que lhe devo obediência, mas, como muitos fazem o contrário, não vejo porque não posso fazer o mesmo. Move-se noutro plano afirmando que, se a lei disser isso, lhe devo obediência, mas ela seria muito melhor e mais eficaz se meu modo de operar fosse tomado como lei universal, sendo reformulada segundo as necessidades de grupos particulares.

Zona de violência difusa

A sociedade não seria mais justa e livre se cada grupo pudesse negociar caso a caso a aplicabilidade das normas mais gerais? que a universalidade abstrata não é possível, cada um trata de encontrar outra mais próxima da vida cotidiana.

Obviamente, esse tipo de raciocinar e de agir aumenta a incerteza, faz com que o medo e a violência espreitem nas zonas de interferência de cada esfera particular. A jovem leitora estava correndo o risco de se ver confrontada ou mesmo insultada por um cidadão mais corajoso e atrevido. Percebe-se que esse tipo de sociabilidade tende a ver a lei oriunda do contrato originário como necessidade vindo de fora, imposição, dever ser que não me diz imediatamente. Mas nessa contestação da validade da lei estatal abstrata cria-se uma zona de violência difusa, que não sabemos ainda controlar. Não é por isso que toda essa rede tecida pela sociedade civil, se de um lado promete mais justiça, liberdade e eficácia no tratamento nos sistemas normativos, também é responsável pela interiorização da violência? Nos últimos tempos essa oposição kantiana entre contrato civil e contrato social vem perdendo progressivamente suas diferenças; de um lado, os ordenamentos jurídicos e suas aplicação se tornam mais sensíveis às necessidades sociais, de outro, os movimentos sociais se globalizam e encontram leis cada vez mais universais. Até que ponto esse processo não abre espaço para o medo e para nova violência do terror?

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José Arthur Giannotti é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e coordenador da área de filosofia do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). É autor de "Certa Herança Marxista" (Cia. das Letras). Escreve na seção "Brasil 505 d.C.", do Mais!.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Passagem das horas

PASSAGEM DAS HORAS

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto,
é pouco para o que eu quero.
(...)


Álvaro de Campos, 22-5-1916



terça-feira, 17 de junho de 2008

... nada ou tudo a perder ... vamos arriscando...


Quero escrever o borrão vermelho de sangue
Clarice Lispector
Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

domingo, 15 de junho de 2008

PARA TERMINAR ESTE CHATO DOMINGO...


"No céu é sempre domingo.
E a gente não tem outra coisa a fazer
senão ouvir os chatos.
E lá é ainda pior que aqui,
pois se trata dos chatos
de todas as épocas do mundo."
(Mário Quintana)

SIMPLICIDADE PARA UM DOMINGO DE VENTO E DE FRIO

(...)
passou por mim,
estabanado,
esbarrou no meu céu
derrubando estrelas
(Cyntia Lopes)

sábado, 14 de junho de 2008

MEDOS, ATOS & CONSEQÜÊNCIAS



"Se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar”


"O medo cega, disse {…}São palavras certas, já erámos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos”



"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”


José Saramago in Ensaio sobre a Cegueira.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

CORAGEM & OUSADIA

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ...
para sempre ...
À margem de nós mesmos...
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

AMORES SÃO SEMPRE POSSÍVEIS ...

QUADRILHA

João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e
Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

(Carlos Drummond de Andrade)

Mar e Lua

(Chico Buarque)

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas,
sentindo arrepio
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Rolando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Frio...


Dá-me a tua mão

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.


De como entrei
naquilo que existe
entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia.


Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
(Clarice Lispector)

terça-feira, 10 de junho de 2008

ILUSÕES

Aonde anda o Mar

Aonde anda o Mar?
Ele recuou?
Desaguou em outro oceano?
Transformou-se em areia?

O que será que foi feito das conchas?
Aquelas conchas que continham os segredos do Mar?

(...)

Não escuto mais o silêncio das suas ondas!
Nem converso com a imensidão dos seus mistérios!

(...)

- O que você disse?
- Ele nunca existiu?
- Ele era Deserto?

Então fui eu que vi miragem!
Projetei ilusões!
Caminhei na areia quente de um Deserto
E nunca mergulhei na imensidão do Mar...

(...)


(Vani Alizo)

TRADUZINDO ... perdas, silêncios, mudanças ...

Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte—
que é uma questão
de vida ou morte
—será arte?
(Ferreira Gullar)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

MUDANÇAS DO TEMPO


EU ESCREVI UM POEMA TRISTE
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana - A Cor do Invisível

domingo, 8 de junho de 2008

...um pouco de delicadeza e de lembranças para final de domingo


Um beijo

que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso do prazer.

Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor "à escuta"
diria meu amor
Ana Cristina Cesar

SOLIDÃO

na pele de um rio
a solidão
é a uma pedra que
no meio de uma tempestade
permanece imóvel
uma provação aos ventos
a escuridão que não fere
e tantas vezes absorve
o limo
tantas vezes transborda
um cântico
ao silêncio dos românticos
coisa roendo os ossos
testando o limite do que
alimenta o ar
(Lau Siqueira - ls – poema vermelho)

sábado, 7 de junho de 2008

GOSTO AMARGO...


"Ingeri um afamado trago de veneno.
Três vezes bendita seja a resolução tomada!
Queimam-me as entranhas.
A violência da peçonha contorce-me os membros,
torna-me disforme,
atira-me por terra.
Morro de sede, sufoco, não consigo gritar.
É o inferno, a pena eterna!
Vede como as labaredas crescem!
Ardo como deve ser.
Vem demónio!"

Arthur Rimbaud - “Uma Estação No Inferno”

sexta-feira, 6 de junho de 2008

PORQUE EM CADA MOMENTO

Por que os poetas mentem: motivos adicionais

Porque o momento
em que a palavra feliz é dita
nunca é o momento da felicidade.
Porque o sedento não traz
aos lábios sua sede.
Porque pela boca da classe operária
não passa a expressão classe operária.
Porque quem se desespera
não tem vontade de dizer:
"Estou desesperado."
Porque orgasmo e orgasmo
estão a mundos de distância.
Porque o moribundo,
em vez de declarar
"estou morrendo",
estertora apenas um gemido baixo
e, para nós, incompreensível.
Porque são os vivos
que enchem o ouvido dos mortos
com suas notícias atrozes.
Porque as palavras sempre chegam
tarde demais ou cedo demais.
Porque é um outro,
sempre um outro,
quem fala
e porque
aquele de quem se fala
silencia.

Hans Magnus

quinta-feira, 5 de junho de 2008

LEVEZA PARA QUINTA-FEIRA

LEVEZA
Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.
E a cascata aérea de sua garaganta,
mais leve.
E o que se lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.
(Cecília Meireles)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

ESSENCIALMENTE SAUDADES...



POEMA ESSENCIALMENTE NOTURNO
À falta da pessoa,
hoje amarei a ausência também do sentimento antigo
e lembrarei que os dias já foram azuis
e as noites somente escuras
quando desconheciamos a palavra medo
e não sentiamos medo.
Amarei o antigo sentimento da ternura casta
palpável, àquele tempo, em mim,
distribuida entre os aposentos da casa enorme,
os três degraus da entrada
o sol nascendo pelos punhos da rede
e o muro do colégio das freiras, quente.
(que estas lembranças me bastam)
Porque não há a pessoa
e eu caminho só e triste pelas calçadas do Rio
e não chego a nenhum destino, porque não tenho destino,
eu hoje amarei a distância que separa eu menino
de mim desesperado, aqui
e me perderei pelos caminhos enrolados uns nos outros
e rolarei de gozo sobre a minha sombra
e chorarei depois porque não sei voltar
(Torquato Neto)

APRENDIZAGEM




Eu aprendi

que não são as pessoas que nos decepcionam

e sim

nós que esperamos muito delas.

Quarta-feira... o frio continua...





LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua)

No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


(Cecília Meireles)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Lispector para aquecer uma terça-feira gelada ...


Estrela perigosa
Clarice Lispector

Estrela perigosa
Rosto ao vento
Barulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.
No obscuro erotismo de vida cheia
nodosas raízes.
Missa negra, feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:excrucitante.
Que medo alegre,
o de te esperar.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O conceito e a prática da tolerância


O conceito e a prática da tolerância*

Raymundo de Lima**

Levantamos três pontos sobre o conceito de tolerância e suas implicações, com o intuito de contribuir para uma maior clareza nos debates e intenções de ação prática.
1. Tolerância é uma das tantas virtudes[1], necessárias para elevar o ser humano à condição de civilidade. Ela faz parte do processo de desenvolvimento ético de indivíduos e grupos, cuja meta é levá-los a manter a "disposição firme e constante para praticar o bem". Implica em dois sentidos. “Ser virtuoso”, tanto pode ser um sujeito com disposição de praticar o bem, como também pode ser "toda pessoa que domina em alto grau a técnica de uma arte" (Dic. Aurélio: p.1465), por exemplo, ser um "virtuose na arte de tocar violino".
Na tradição da filosofia moral, a tolerância não é exatamente considerada uma "grande virtude" ou "virtude cardinal", tal como é a justiça, a coragem, a prudência e a temperança ou moderação. Contudo, ela não deve ser posta do lado das chamadas "pequenas virtudes", como é o caso da polidez. A tolerância deve ser vista numa posição especial, de entremeio das virtudes, sendo mais que respeito, polidez ou piedade. S.P. Rouanet, a vê "como passagem para um estágio mais civilizado e menos mecânico de convívio das diferenças". Sinaliza, no entanto, que "as diferenças não devem ser apenas toleradas, porque do contrário elas se reduziriam a um sistema de guetos estanques, que se comunicariam no espaço público; deve ser uma virtude que cause interpenetração entre os diferentes" (FSP, 9/2/03). Ou seja, a tolerância deve ser um ato constante de prevenção e educação[2].
Alain, pensador sempre citado nos estudos sobre as virtudes, diz que a tolerância "é uma espécie de sabedoria que supera o fanatismo, esse terrível amor à verdade" (apud A. Comte-Sponville (Pequeno tratado das grandes virtudes. SP: M. Fontes, 1995). No fundo, sinalizamos acima, ela é uma espécie de prevenção contra o dogmatismo, para que este não vire fanatismo (na dimensão pessoal), fundamentalismo (na dimensão religiosa) e totalitarismo (na dimensão de Estado ou de Governo).
Localizada como virtude de entremeio, a tolerância é exercício necessário para se conquistar a Sabedoria[3]. Na consideração de André Comte-Sponville, é uma virtude necessária para o exercício das coisas pequenas do cotidiano.
Nela, existe uma espécie de prontidão e atividade; "prontidão" a favor de idéias e atos de tolerância e "atividade" contra tudo que se cerceia, reprime, oprime, discrimina, que não respeita as diferenças humanas, sejam étnicas, culturais, religiosas, etc. A democracia é um bom exemplo de exercício, ao mesmo tempo, de "prontidão" e "atividade" de tolerância, ou seja, "democracia não é fraqueza. Tolerância, não é passividade", assinala Comte-Sponville. Olgaria Matos lembra que “tolerare” quer dizer “levar”, “suportar” e também “combater” (FSP-Mais! e www.librairie.hpg.ig.com.br/)
Quem se pretende possuir "a verdade", ou melhor, "a certeza", termina sendo intolerante em aceitar outros posicionamentos, se fechando a escuta de tudo que apresente diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual de fala e ação. O moralista, por exemplo, é in-tolerante com os que possuem valores diferentes do seu; em verdade, sabemos se tratar de um moralista quanto sofremos a imposição de seus valores, baseado em sua “certeza moral”. O moralista carrega a ambição de impor a todos, universalizando seus valores como certos. Enfim, "toda intolerância tende ao totalitarismo" ( "integrismo", em matéria religiosa). Ser intolerante é manter uma "atitude de ódio sistemático e de agressividade irracional com relação a indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas crenças e convicções" (Rouanet, op.cit). Tradicionalmente, a religião tem sido o principal agente da intolerância, como também é vítima.
2. Um breve levantamento histórico diz que a palavra tolerância foi "parida" nos conflitos religiosos, no séc. 16, na época das guerras religiosas entre católicos e protestantes. André Lalande (Vocabulário técnico e crítico de filosofia. SP: M. Fontes, 1993), conta que "os católicos acabaram por tolerar os protestantes, e reciprocamente. Depois foi reclamada a tolerância em face de todas as religiões e de todas às crenças". A partir do século 19, a tolerância estendeu-se ao livre pensamento e, no século 20, passou a ser acordo internacional com intenção de ser exercitada, através da Carta aos Direitos Humanos em 1948, também através de algumas ONGs e de governos não totalitários.
3. Há um importante questionamento: a tolerância deve ter limites ou não? Para o escritor e Nobel em Literatura, José Saramago, "a tolerância para no limiar do crime. Não se pode ser tolerante com o criminoso. Educa-se ou pune-se" (FSP, 27/01/95). Nesse sentido, não se pode ser tolerante para com a tortura, o estupro, a pedofilia, a escravidão, o narcotráfico, o terrorismo, a guerra. Já o filósofo Vladimir Jankélévich, considera que, se levada a extremo, a tolerância "acabaria por negar a si mesma", Ou seja, "a tolerância só vale, pois, em certos limites, que são os de sua própria salvaguarda e da preservação de suas condições de possibilidade". O escritor e pacifista israelense Amós Oz, para quem a tolerância é a questão fundamental do séc. 21, nos deixa uma pergunta bem atual: "A tolerância deve se tornar intolerante para se proteger da intolerância?"(FSP, 10/1/99).
De todas as virtudes, a tolerância revela um paradoxo chamado por Karl Popper de "paradoxo da tolerância": "Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância".
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 e a invasão anglo-americana ao Iraque, o filósofo S. Zizek analisa o paradoxo da tolerância numa democracia. Ou seja, uma democracia deve ou não impor limites de tolerância tendo em vista a ânsia dos intolerantes pelo poder? “Seria possível ser tolerante para com um partido antidemocrático, vencedor das eleições livres, com a plataforma de abolição da democracia formal? (como já aconteceu na Argélia). Seria possível ser tolerante para com uma invasão militar, com a justificativa de derrubar um ditador sanguinário para impor a democracia? É possível confiar numa democracia imposta? Democracia é um regime que se impõe autoritariamente, ou acontece segundo determinantes específicos e temporais da cultura?
Contudo, se a tolerância pudesse existir sem limites, se fosse uma virtude universal, onde todos fossem plenamente respeitados e respeitadores das diferenças humanas, provavelmente o mundo seria melhor de se viver. Mais que desejo e aspiração ética, seria uma utopia realizada. Entretanto, uma sociedade plenamente tolerante, continuaria sendo humana?

Referências bibliográficas:
COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. SP: M. Fontes, 1995.
JANKÉLÉVITH, V. O paradoxo da moral. Campinas: Papirus, 1991.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico de filosofia. São Paulo, M. Fontes, 1993.
MATOS, O. Sociedade, tolerância, confiança, amizade. Folha de S. Paulo, cad. Mais! e www.librairie.hpg.ig.com.br/
OZ, A. “Seu discurso resiste ao silêncio”. Folha de S.Paulo, cad. Mais! 10/01/1999.
POPPER, K. R. Conjecturas e refutações.Brasília. UnB. (apud: COMTE-SPONVILLE, A. op.cit.)
ROUANET, S. P. O Eros das diferenças. Folha de S.Paulo, cad. Mais!, 9/2/03.
SARAMAGO, J. Entrevista. Folha de S.Paulo, 27/01/95.
ZIZEK, S. O paradigma da ideologia. Folha de S. Paulo, cad. Mais! 20/04/2003

* Texto elaborado para uma primeira discussão conceitual acerca da formação do Grupo de Estudos Sobre a Tolerância.
** Psicanalista, Docente na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutorando na Faculdade de Educação (USP).
[1] No sentido da ética, virtude é o que faz com que um sujeito aja de forma a fazer o bem para si e para os outros. Platão considerava a virtude como uma qualidade que o indivíduo traz consigo e que, portanto, não pode ser ensinada. Aristóteles pensa o contrário, ou seja, ações boas realizadas e repetidas pelo sujeito, forma o hábito (gr.: areté = virtude) de ser bom. “Ela é a medida justa entre dois extremos, um por excesso e outro por falta. A partir da modernidade, se entende que a virtude é a disposição moral para o bem, ou “a força de resolução que o homem revela na realização de seu dever” (Kant). São virtudes: a justiça, a moderação, a prudência, a coragem, a tolerância, a generosidade, a humildade, a fidelidade, a polidez, etc...
[2] É fato que, aprendemos hábitos, conhecemos coisas, refletimos sobre idéias e teorias, mas nossa educação não ensina sobre como devemos nos relacionar com os outros. No fundo, tendemos a ver o outro como um inferno (Sartre). O problema existencial do ser humano é conviver com o que é tolerável em relação ao outro. Fica a cargo da ambiência cultural e do desenvolvimento psíquico, aprendermos a superar nossa onipotência narcísica infantil, que abriria caminho para um radical e efetivo "exercício da tolerância", ou seja, aceitar a conviver com o outro como ele é e pensa.
[3] Sabedoria (lat. Sagesse), não é apenas a prudência, mas “um perfeito conhecimento de tudo o que os homens podem saber". Inclui a humildade socrática, a disposição para o saber integral, o bom-senso e a arte de bem viver a vida. Diferente da ciência, a sabedoria não é para ser acumulada, mas para ser esquecida ao ser testada na prática da vida. O "velho sábio" chinês Lao Tsé, dizia que "sabedoria é esquecer saberes". Ou como dizia Sócrates, “a única coisa que sabia é que nada sabia”. O lugar do homem de sabedoria é o da humildade. Nesse sentido, a “sabedoria” se opõe aos “conhecimentos” (ou ”saberes”) fragmentados das especialidades científicas. O cientista (expert), pode ser um sujeito cheio de conhecimentos e, ao mesmo tempo, ser cego ao geral e inábil na prática cotidiana. Vive, por assim dizer, na contramão da sabedoria. “A sabedoria é desprovida de paixão, ao contrário da religião que é cheia de cor” (Wittgenstein). O princípio da Sabedoria é a capacidade do ser humano de unir partes ao todo, integrando-as na vida prática. No campo das ciências, o projeto inter e transdisciplinar parece sustentarem tal meta. Edgard Morin declara que o homem moderno aprendeu a fazer ciência, separando excessivamente as disciplinas, mas ainda não aprendeu a juntá-las. Unir esses conhecimentos, num todo teórico, complexo e prático diminuiria não só a alienação, o dogmatismo, a arrogância daqueles que detém o saber como um poder, mas se ampliaria o tratamento conceitual e prático sobre as coisas humanas e do mundo.