quarta-feira, 4 de junho de 2008

ESSENCIALMENTE SAUDADES...



POEMA ESSENCIALMENTE NOTURNO
À falta da pessoa,
hoje amarei a ausência também do sentimento antigo
e lembrarei que os dias já foram azuis
e as noites somente escuras
quando desconheciamos a palavra medo
e não sentiamos medo.
Amarei o antigo sentimento da ternura casta
palpável, àquele tempo, em mim,
distribuida entre os aposentos da casa enorme,
os três degraus da entrada
o sol nascendo pelos punhos da rede
e o muro do colégio das freiras, quente.
(que estas lembranças me bastam)
Porque não há a pessoa
e eu caminho só e triste pelas calçadas do Rio
e não chego a nenhum destino, porque não tenho destino,
eu hoje amarei a distância que separa eu menino
de mim desesperado, aqui
e me perderei pelos caminhos enrolados uns nos outros
e rolarei de gozo sobre a minha sombra
e chorarei depois porque não sei voltar
(Torquato Neto)

Nenhum comentário: