sábado, 30 de abril de 2011

Para pintar a vida do camponês, é preciso ser mestre em tantos temas. Que bom é isto sobre os personagens de Millet*: seu camponês parece ter sido pintado com a terra que semeia!

Apliquei-me conscientemente em dar a ideia de que estas pessoas que, sob o candeeiro, comem suas batatas com as mãos, que levam ao prato, também lavraram a terra, e que meu quadro exalta portanto o trabalho manual e o alimento que eles próprios ganharam tão honestamente.

Com sua saia e sua camisola azuis, cobertas de poeira e remendadas, e que sob o efeito do tempo, do vento e do sol tenham tomado os mais delicados matizes, uma camponesa é, na minha opinião, mais bonita que uma dama; que ela se vista como uma dama, e tudo que há de verdadeiro nela desaparece.

[...] Se uma pintura de camponeses cheira a toucinho, a comida, a batatas, perfeito!


VAN GOGH, Vincent. Cartas a Théo, Ed. L&PM, 2010.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Eu venho de uma longa saudade. Eu, a quem elogiam e adoram. Mas ninguém quer nada comigo. Meu fôlego de sete gatos amedronta os que poderiam vir. Com exceção de uns poucos, todos têm medo de mim como se eu mordesse."

(Clarice Lispector)

domingo, 24 de abril de 2011



Hoje queria a casa só pra mim e desfrutar da companhia de boas musicas e uma boa bebida.

(Caio Fernando de Abreu)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

o eco, desenha no vazio irrespirável

Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se no fundo do poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.

(José Saramago)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.

Tem nome de ninguém.
Não faz ruído. Não fala.
Mas passa com a sua fina faca.

Fecha feridas, é ungüento.
Mas pode abrir a tua mágoa
Com a sua fina faca.

Estanca ventura e voz
Silêncio e desventura.
Imóvel
Garrote
Algoz
No corpo da tua água passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.

(Hilda Hilst)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dia de Chuva




Dia tão sem claridade!
só se conhece que existes
pelo pulso dos relógios...

(Cecília Meireles)

domingo, 17 de abril de 2011

Poesia: realidade e melancolia



A metáfora da vida como um rio

A hipocrisia social

A resistência contra a mesquinhez

A poesia que surge da realidade.


- Para se escrever uma poesia, deve-se aprender a ver. "Deve-se olhar a maça de um modo diferente para compreendê-la".

- “melhor comê-la em vez de olhá-la


"Quando o abricó cai do pé,

ele imediatamente é lançado à vida,

para em seguida, ser pisado".


Longa "Poesia" do sul-coreano Lee Chang-dong




sábado, 16 de abril de 2011

Entre o início e o fim que sobreviva a magia
(Hamilton Farias)

quarta-feira, 13 de abril de 2011


Não aprendi a colher a flor sem esfacelar as pétalas. Falta-me o dedo menino de quem costura desfiladeiros. Criança, eu sabia suspender o tempo, soterrar abismos e nomear estrelas. Cresci, perdi pontes, esqueci sortilégios. Careço da habilidade da onda, hei-de aprender a carícia da brisa. Trêmula, a haste me pede o adiar da noite. Em véspera da dádiva, a faca me recorda, no gume do beijo, a aresta do adeus. Não, não aprenderei nunca a decepar flores. Quem sabe, um dia, eu, em mim, colha um jardim? (Mia Couto)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Feliz Aniversário ariANA!

"(...)Os amigos são para toda a vida, ainda que não estejam conosco a vida inteira. [...] Amizade não é dependência, submissão. Não se tem amigos para concordar na íntegra, mas para revisar os rascunhos e duvidar da letra. É independência, é respeito [...] O que é mais importante: a proximidade física ou afetiva?[...] Assim como há os amigos imaginários da infância, há os amigos invisíveis da maturidade. Aqueles que não estão perto podem estar dentro. [...] Amigo é o que fica depois da ressaca. É glicose no sangue." (Fabrício Carpinejar)

segunda-feira, 11 de abril de 2011


De tarde um homem tem esperanças. Está sozinho, possui um banco. De tarde um homem sorri. Se eu me sentasse a seu lado Saberia de seus mistérios Ouviria até sua respiração leve. Se eu me sentasse a seu lado Descobriria o sinistro Ou doce alento de vida Que move suas pernas e braços. Mas, ah! eu não vou perturbar a paz que ele depôs na praça, quieto. (Manoel de Barros)

domingo, 10 de abril de 2011

Sempre há uma ausência
presente
na sala de visitas
no dormitório
em cada pequeno pedaço
da colcha de retalhos
sobre a cama
Porque
(qual o por quê?)
os dias construídos com tijolos
de distâncias
fraturas
e à janela um olhar passeia
sempre à procura

(Joana Maria Guimarães)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Que o dia possa ser leve...

As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas. (Manoel de Barros)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

PAZ


"E a minha alma alegra-se com seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão" (Fernando Pessoa)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

As palavras escorrem como líquidos
lubrificando passagens ressentidas

(Ana Cristina César)


terça-feira, 5 de abril de 2011

Ando à procura de espaço para o desenho da vida. Em números me embaraço e perco sempre a medida. Se penso encontrar saída, em vez de abrir um compasso, projeto-me num abraço e gero uma despedida. Se volto sobre o meu passo, é já distância perdida. Meu coração, coisa de aço, começa a achar um cansaço esta procura de espaço para o desenho da vida. Já por exausta e descrida não me animo a um breve traço - saudosa do que não faço, - do que faço, arrependida. (Cecília Meireles)

segunda-feira, 4 de abril de 2011


"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."


(Manoel de Barros)

domingo, 3 de abril de 2011

Saudades...

"... E também essa coisa que chamamos saudade e que é preciso alimentar com pequenos rituais para que a memória não se desfaça como uma velha tapeçaria exposta ao vento."

(Caio Fernando Abreu)