sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sempre há muitas nuvens

Discurso – Cecília Meireles

E aqui estou, cantando.
Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixe seu ritmo onde passa.
Venho de longo e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.
Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.
Pois aqui estou, cantando.
Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute ?
Ah! se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que algum ouvido me escute ?
Ah! se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim ?

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