segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Finais de ano



Precisava levar uma rosa para a professora.
Meus colegas carregavam arranjos dia sim dia não.
Menos eu, que amava desperfumando.

Uma rosa que fosse sapato de abelha,
barco de pássaro, cadarço de espinho.
Podia ser rosa apenas.
Com o talo do tamanho de uma gravata,
que não ultrapassasse o cinto.

Uma rosa ainda aspergida, luzindo,
joelho escapando da saia.

Arriscado tomá-la dos jardins e quintais.
Havia sempre um conhecido na janela.
Um amigo de parente. Um cachorro latindo.

Percorria o cemitério antes da escola,
para ganhar dois quarteirões de vento.
As ruas tortas e as camas
sem a pressa dos hospitais.
Os acenos entre as letras. O acento
de pedra para o lado errado. As datas
fotografando o tempo deitado.

Em nome de minha professora,
roubei várias rosas das lápides.
Larápio, mudava de túmulo.
O coração morrendo de vergonha.
Arrumava a folhagem do vaso para despistar,
como quem preenche a falta de um livro
distribuindo os que ficaram.

Todo ano que passa, estou
devendo uma rosa nova a um morto

(Fabrício Carpinejar)

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