sábado, 16 de agosto de 2008

Era uma Onda ... era um Mar ...


A ONDA

Era uma onda que crescera para lá do meio do mar e mais se alçava em corpulência das ondas que tragava pelo caminho. Era uma onda ávida. Com ela rolavam búzios alucinados, estilhaços de conchas, madeiros, plâncton, algas, o último alento dos afogados...
Era uma onda violenta.
A exaltação que trazia dos confins do horizonte nem lhe dera para se interrogar sobre qual o desígnio do seu destino.
Era uma onda embriagada de vida.
Desfraldada em cachão, cavalgava para terra.
A rojar-se sobre os primeiros bancos de areia, esboçou enfim a pergunta:
- Porquê?
Mas já não teve tempo de responder.

António Torrado in Cinco sentidos e outros 1997

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