sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um silêncio implacável...


O dia não é hora por hora.
É dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta, mar, diz o mar,
sem trégua, terra, diz a terra,
o homem espera.
E só seu sino está ali entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá quando levante
sua língua de metal onda após onda.
De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia do mar,
e um sino.
Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.
Isto acontece para todo o mundo,
continua o espaço. E vive o mar.
Existem os sinos.

(Pablo Neruda)




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