quinta-feira, 17 de julho de 2008

Hipócritas e Medíocres

O Homem Medíocre é fruto das lições de José Ingenieros sobre a psicologia do caráter, professadas na cátedra da Faculdade de Filosofia.
O hipócrita entibia toda amizade com suas duplicidades: ninguém pode confiar em sua ambigüidade recalcitrante.
Dia a dia afrouxa suas anastomoses com as pessoas que o rodeiam; sua sensibilidade escassa empede-o de buscar estímulo na ternura alheia e sua afetividade vai empalidecendo como um planta que não recebe sol, consumindo o coração em um inverno prematuro.
Apenas pensa em sim mesmo, e essa é a sua pobreza suprema.
Seus sentimentos debilitam-se nos hibernáculos da mentira e da vaidade.(...)
Não podendo confiar em ninguém, vivem secando as fontes de seu próprio coração, não sentem a raça, a pátria, a classe, a família, nem tampouco a amizade, ainda que saibam falseá-las para explorá-las melhor.
Alheios a tudo e a todos, perdem o sentimento de solidariedade social, até caírem em sórdidas caricaturas de egoísmo.
O hipócrita mede sua generosidade pelas vantagens que dela obtém; concebe a beneficência com uma indústria lucrativa para sua reputação. Antes de dar, investiga se terá notoriedade seu donativo.(...)
Indigno da confiança alheia, o hipócrita vive desconfiando de todos, até cair no supremo infortúnio da suscetibilidade.
Um terror ansioso o importuna frente aos homens sinceros, crendo escutar em cada palavra uma reprovação merecida; nele não há dignidade, senão remorso.(...)
Costumam ser cúmplices, mas não amigos; a hiprocrisia não ata pelo coração, senão pelo interesse. Os hipócritas, sempre utilitários e oportunistas, estão a todo momento dispostos a trair seus princípios em homenagem a um benefício imediato; isso lhes veda a amizade com espíritos superiores.
O gentil-homem tem sempre um inimigo neles, pois a reciprocidade de sentimentos apenas é possível entre iguais, na medida em que forjarão a ocasião para afrontá-lo com alguma infâmia, vingando a sua própria inferioridade.
La Bruyère escreveu uma máxima imperecedoura: "Na amizade desinteressada há prazeres que não podem alcançar os que nasceram medíocres".

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