sexta-feira, 18 de julho de 2008

Tempo de ocupação & outras ausência

Duas poesias de Eduardo Pitta - poeta, escritor e ensaísta português. Poesias que servem para cortar a carne ...

Ocupamos a paisagem
que, desocupada, se ocupa
de nós.
Tempo de ocupação, este.

Somos o estrangeiro
que o silêncio de paredes
brancas e esquecidas
perturbou.

Extasiado ao menor rumor
de um estio
duro e claro— todo lâminas.

Perplexo da memória destes dias
sufocados em tédio
e cal.

Da palavra para a pedra
arrastando-se aquáticos— as mais sazonadas
as menos polidas.

Crestada que foi,
na raiz do tempo, toda
a subliminar tentativa
de retorno.
Pouco tenho para alinhavar.
Dizer-te que estou longe
não apaga esta ausência que,
inelutavelmente,
nos distanciou.

Cercam-nos muros de silêncio
opresso.
A própria hera não ousa
na despudorada nudez branca
de paredes que interditam

a fantasia ao forasteiro
voraz.
O gesto tolhido,o pretexto adiado
e a memória a estiolar.

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