sábado, 15 de novembro de 2008

Eu a beira do vento


O amor é vermelho.
O ciúme é verde.
Meus olhos são verdes.
Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros.
Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu.
Eu, implorante, eu -
a que necessita,
a que pede,
a que chora,
a que lamenta.
Mas a que canta.
A que diz palavras.
Palavras ao vento?
Que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento.
O morro dos ventos uivante me chama.
Vou, bruxa que sou.
E transmuto ..."

(Clarice Lispector)

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